Tanto as crianças, quanto os pais e mesmo os professores e educadores enfrentam embates diante da "lição de casa". Há conceitos diversos e muitas vezes mal interpretados a respeito desse valioso instrumento no processo de aprendizagem. "Devemos analisar essa questão, considerando-se dois aspectos. Para que serve a lição de casa? De quem é a tarefa? Acreditamos que o indivíduo aprende com as experiências diárias. Por esta razão, a lição de casa deve ser proposta de modo a criar condições favoráveis à aprendizagem. Assim, uma das tarefas mais importantes que os pais podem realizar é amparar a criança na formação do conhecimento, ajudando-a a descobrir que, ao aprender, ela será capaz de usar mais adequadamente seus recursos intelectuais", diz Débora Vaz, diretora pedagógica da Escola Castanheiras, localizada no Tamboré. Lição de casa não é castigo e não pode ser vista dessa forma. "É importante fazer um esforço no sentido de organizar o tempo destinado à lição de casa. Crianças acostumadas desde cedo a cumprirem esse ritual diário, sendo valorizadas por o fazerem, recebendo atenção e encorajamento freqüente, logo encontram prazer no próprio trabalho e orgulho em exibir suas produções acadêmicas", diz Quézia Bombonatto, psicopedagoga e presidente da ABPp - Associação Brasileira de Psicopedagogia. O objetivo pedagógico da lição de casa é dar ao aluno a responsabilidade de realizar, de forma individual e num espaço próprio, trabalhos que requeiram pesquisa, provoquem questionamentos e estimulem o uso, em situações novas, de conceitos construídos em classe. Por meio da atividade é possível perceber dificuldades e conquistas no processo de aprendizagem. Nesse sentido, os pais sempre têm dúvidas se podem ou não ajudar seus filhos na tarefa. "Para os alunos que estão alfabetizados, quando começam a compreender o código alfabético, não há nenhum problema no fato de os pais corrigirem", observa Laura Alice Piteri, coordenadora pedagógica da Escola Carlitos, em São Paulo. Para aqueles que estão em fase de alfabetização, determinados tipos de correção podem não fazer sentido ao aluno, explica a educadora. Para facilitar a vida dos pais, a escola elaborou um roteiro de especial que orienta desde o local adequado para execução da lição de casa, até o limite de colaboração dos pais. Existe uma outra maneira de fazer a lição de casa, na qual a sistematização de conteúdos se dá em sala de aula e não em casa. Por isso, na Prima Montessori, de São Paulo, os alunos não têm dever de casa. "O aluno só leva para casa coisas que tem absoluto domínio, como por exemplo a cópia de um documento. Lição é feita na escola", conta Angelina Brandão, diretora pedagógica da Prima Escola Montessori de São Paulo, zona sul da capital paulista. Para dar conta de tal "tarefa", a escola trabalha em período integral duas vezes por semana, a partir da 2ª série do ensino fundamental. Nessa escola não há estresse na hora da lição de casa, já que o aluno faz a "lição de casa" na escola. Já para os mais velhos, a partir da 5ª série do ensino fundamental, existe uma outra preocupação que é dar autonomia ao aluno. "Toda lição que é dada é cobrada, mas importa mais o aluno cumprir a responsabilidade de fazer a lição, do que fazê-la absolutamente correta", pondera Flávio Cidade, coordenador pedagógico do Colégio Ítaca, zona oeste de São Paulo. Os pais não precisam se afligir. "Quando o aluno não realiza sistematicamente as lições de casa, apesar de já ter maturidade para isso, nós chamamos os pais", acrescenta Cidade. "Repetimos à exaustão aos nossos alunos que não existe problema no erro. Ele serve para construir o acerto e, acima de tudo, a escola precisa do erro", completa.
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