Acho muito salutar festejar uma vitória, expressar a alegria da conquista tão almejada é pura felicidade. Tem candidato que está festejando a vitória desde já, pena que está exagerando no foguetório. Parece uma queima de fogos de final de ano acontecendo em cada comício que o candidato Já Ganhou anda fazendo pela cidade. Até entendo a felicidade do candidato Já Ganhou, deve ser muito difícil esperar o dia 3 de outubro para a formalização da vitória. O que não entendo é por que festejar a vitória com tanto foguetório. O primeiro problema dos fogos de artifício em comícios é a vizinhança inteira não conseguir dormir enquanto não acaba a festa de comemoração e a latição da cachorrada. Muito bem reclamado por Dona Helena Rodrigues, do Itaguá, no Litoral Virtual do dia 25pp. Mas o problema é maior. Muitos bairros de Ubatuba estão muito próximos da Mata Atlântica e é nesta época que as aves estão se reproduzindo. A queima de fogos nessa região e nesta época provoca o abandono dos ninhos. O candidato Já Ganhou não sabe, mas a gente sabe que à noite quando um passarinho abandona o ninho e sai voando ele não tem como voltar, deixando o ninho ao relento e provocando o goro dos ovos ou a morte dos filhotes. Quando da inauguração do comitê numa praça central da cidade teve foguetório e fui reclamar. Ouvi de um dos asseclas que os passarinhos acabam se acostumando e que numa praça na cidade só tem pardal. Até entendo a alegria do candidato Já Ganhou, só não concordo com o preço que a natureza está pagando. Mesmo que seja com pardais. E Ubatuba tem mais do que pardais nas suas praças centrais. Nosso município tem 300 espécies catalogadas. Reclamei outras vezes e aturdido, fiquei sabendo que eles já estão organizando a queima de fogos do reveillon da vitória e que, do mesmo jeito, vão fazer na barra dos pescadores ao lado do ninhal de garças e biguás e de mais 25 espécies que existem ali (além dos pardais, é claro). Sugeri que fizessem a queima de fogos do reveillon da vitória numa balsa no meio da baía e outro assecla me respondeu: "A engenharia é muito cara, o preço não compensa." Me lembrei de Frank Loyd Write quando disse que os médicos enterram seus erros, e que os engenheiros os constroem. E resolvi não contestar. O mais interessante de tudo isso, de todos esses foguetórios e daquele monte de diplomas e de PHD’s, é que o candidato Já Ganhou e seus marqueteiros demonstram irresponsabilidade com a cidade e que reclamos da população. Isso é coisa de pardal. Devemos entender que de qualquer forma é um progresso. Há 12 anos somos tratados iguais a urubus, com a vitória do Já Ganhou seremos pardais. Um dia a gente chega a Tangará.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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