...Naquele império, a arte da Cartografia alcançou tal perfeição que o mapa de uma província ocupava toda uma cidade, e o mapa do império ocupava toda uma província. Com o tempo, estes mapas desmesurados não mais satisfaziam e o colégio de Cartógrafos fez um mapa do império que tinha exatamente o tamanho do império coincidindo ponto por ponto. Menos adictas aos estudos da Cartografia, as gerações seguintes entenderam que o dilatado mapa era inútil e sem piedade abandonaram-no às inclemências do sol e dos invernos. Nos desertos do oeste perduram despedaçadas ruínas do mapa, hoje habitadas por animais e por mendigos e em todo o país não há outra lembrança das disciplinas geográficas... (História Universal de la Infâmia - Jorge Luis Borges) Ouvindo as promessas dos candidatos a prefeito me lembrei deste conto. O que já teve duas oportunidades para fazer, e diz que faz, passou os últimos anos sem uma secretaria de planejamento e nunca deu importância a um Plano Diretor para a cidade, espalhou obras pela cidade sem o mínimo planejamento ou critério nos expondo a um futuro incerto e duvidoso. Exemplo prático do tipo que faz, é o nosso centro da cidade. Ele resolveu asfaltar, mandou fazer as guias e sarjetas e perdeu a grande oportunidade de aumentar as larguras das calçadas. Na contra mão da história ele vai lambuzar as ruas da cidade privilegiando os automóveis em prejuízo do povo, que vai continuar se apertando e dividindo espaço com os ciclistas pelas vergonhosas calçadas do centro. Mas ele faz. Na gestão anterior quando ele falou em urbanizar a Maria Alves, depois de três ou quatro tentativas frustradas ele simplesmente refez o asfalto e espalhou floreiras pelas calçadas. Ou seja, ele não mexeu nas calçadas e ainda as entulhou com flores. Fica difícil conversar com um prefeito que confunde urbanizar com ajardinar. Que confunde vida com votos quando se recusa a cumprir a lei de uso das bicicletas. Que confunde esmola com verba quando insiste no até 3% para a cultura do município. Que confunde globo terrestre com uma gaiola das loucas. Que confunde veranista com turista. Que confunde cidadão com um simples e ocasional eleitor. Por outro lado, outros candidatos se aproveitam que o atual só Faz de conta e nos apresentam um pacote de obras assemelhado a um cenário hollywoodiano, diferente da cidade que queremos ter. São tantas obras que a gente se pergunta, e nós? Onde ficamos? Obras ungidas por um colegiado de ilustres marqueteiros que a gente se pergunta: cadê o recheio? Cadê o povo? Quem irá usar as obras? Que fatalmente me lembra o destino dos mapas na historia acima. Não seria mais simples se os senhores candidatos, quando falam em obras e do destino da nossa cidade, se comprometessem com o Plano Diretor já elaborado pela comunidade e que se encontra engavetado?
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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