| Carlos Rizzo | | | | Filhote de molothrus bonariensis com uma mãe zonotrichia capensis. |
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Ela não viu quando a outra invadiu seu ninho e ali acrescentou mais dois ou três ovos. Ela não percebeu que os novos ovos deixados pela mãe invasora eram diferentes em cor e tamanho. Quando os ovos eclodiram, ela não percebeu os diferentes filhotes que nasceram também. Ela não fez diferença nos cuidados e na alimentação dos seus filhos e dos filhos que não eram seus. Nos primeiros vôos seus filhos foram os primeiros e, seus muito mais pesados não filhos, demoraram mais tempo dependendo do alimento trazido por ela. Seus desenvoltos filhos logo se lançaram ao mundo longe do ninho e dos pais, seus não filhos, mesmo depois de grandes, mesmo sabendo voar para longe, mesmo com capacidade de apanhar alimentos, continuam a lhe atazanar querendo alimento na boquinha. Ou seria biquinho? Na foto, esta pobre mãe tico-tico está alimentando um dos seus três filhotes chupim, um recorde! Tentei uma foto com os quatro juntos, mas não teve jeito. Os danadinhos dos chupins ficam separados, todos piando pelo alimento que a esforçada mãe tico-tico leva de um por um colocando no biquinho de cada um. Um desespero! Não tem jeito, mãe é mãe. Não importa a espécie, mãe não vê com os olhos, vê com o coração. Não sei o que pensar da mãe chupim. Seria uma desesperada que por falta de condições para criar seus filhos os dá em adoção? Todos os anos? Sei não. Será que ela e seu marido não sabem fazer um ninho? O urutau e o pingüim também não sabem, e nem por isso delegam aos outros o dever que lhes cabe. Melhor não falar mal da mãe dos outros. Mãe é mãe. A mãe tico-tico deve olhar para seus imensos e nigérrimos filhos e pensar: Devo ter exagerado na alimentação... Pobres meninos. Vão sofrer descriminação. Vão nada. Quando crescerem (mais?) vão se juntar em bandos de chupins e, só vão lembrar que tiveram uma mãe tico-tico quando precisarem de um lugar para depositar seus ovos. Retornam, mas este não é um caso de “o bom filho a casa torna”.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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