Cinco estudantes de arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foram premiados em Copenhague, na Dinamarca, no 51º Concurso Estudantil da Federação Internacional de Habitação e Planejamento (IFHP, na sigla em inglês). O concurso tem o objetivo de identificar soluções nos cinco continentes para problemas que as grandes cidades enfrentarão no futuro. Um importante desafio proposto pelos organizadores nesta edição foi o aumento populacional: em 2030, o mundo deverá ter 9 bilhões de habitantes. Outro ponto é o deslocamento para áreas urbanas: em 2007, pela primeira vez, a população nas cidades no mundo superou a das áreas rurais. O projeto dos alunos da Escola de Arquitetura da UFMG, Bernardo Araújo, Éder Andrés, Isabel Brant, Mateus Andreatta e Thiago Campos, orientados pela professora Maria Lúcia Malard, recebeu menção honrosa por ser um dos 11 melhores entre 193 trabalhos inscritos. O trabalho, intitulado “Uma microcomunidade resolvendo problemas globais”, propôs uma nova abordagem de ocupação para o Aglomerado da Serra, favela com mais de 50 mil habitantes localizada na região centro-sul de Belo Horizonte. A área teve seu planejamento urbano refeito pelos alunos, que sugeriram a criação de mais unidades habitacionais e o aumento no número de áreas verdes e de espaços de lazer. A “nova comunidade” também foi projetada para ser mais bem servida de transportes públicos e ser capaz de produzir alimentos, energia e empregos. Segundo Bernardo Araújo, a favela teria ruas principais que acompanhariam a inclinação do morro. Entre uma viela e outra, seriam construídas as “grelhas de habitação”, estruturas que formam vilas suspensas divididas em andares, com entrada comum para elevadores e escadas. Cada andar seria dividido no que os pesquisadores chamaram de “lotes aéreos”, sendo que apenas 60% desses poderiam ser ocupados por residências e o restante utilizado para construções públicas, como postos de saúde e delegacias de polícia, além de praças que contribuiriam para a ventilação natural e iluminação do prédio. As grelhas de habitação, de acordo com o estudo, poderiam ser construídas em concreto ou metal. “O projeto reúne características de uma vila de casas montada em estrutura de edifício. Como as áreas verdes não acompanham o crescimento das construções das grandes cidades, estabelecemos uma taxa mínima de ocupação, que pode ser variável dependendo da topografia do local, com o intuito de abrigar esses espaços públicos de convivência nos lotes aéreos sem construção”, explicou Araújo à Agência FAPESP. O trabalho, que também propôs que as grelhas fossem abastecidas por energia solar e sistemas de reutilização de água da chuva, incluiu ainda uma estrutura de transporte formada por estações de bondes para locomoção interna dos moradores entre as partes altas e baixas da favela. “O projeto foi desenhado a partir de tecnologias de construção existentes no mercado e, por isso, pode ser adaptado a qualquer favela do Brasil. Ganhar uma menção honrosa no concurso da IFHP traz oportunidades de discutir questões sobre a sustentabilidade econômica e ambiental das metrópoles”, afirmou Araújo. Segundo ele, a prefeitura de Belo Horizonte, que mantém o programa de habitação Vila Viva, cujo projeto piloto está sendo realizado no Aglomerado da Serra, demonstrou interesse pelo estudo da UFMG, uma vez que o trabalho aumentou em cerca de 50% a capacidade habitacional da favela sem a necessidade de ampliação de área. “Ainda que a implementação desse tipo de projeto demande planejamento urbano a longo prazo, estamos, com o auxílio dos professores da universidade, buscando parcerias com gestores da prefeitura e de empresas urbanizadoras para tentar, de alguma maneira, discutir a aplicação prática desse novo conceito de urbanização”, disse Araújo.
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