Não tem jeito, em tudo quanto é filme, documentário ou especial que se faça sobre a Amazônia lá estará ele cantando, algumas vezes temos que forçar a memória e lembrar se ele ocorre nos locais que está sendo o tema do trabalho. Esta é a vocalização do cricrió-seringueiro, Lipaugus vociferans, cujo nome comum já indica o seu local de ocorrência que é na Amazônia. Outras vezes basta aparecer uma mata fechada que não tem nada a ver com Amazonas e o pessoal já coloca a voz do cricrió. É incrível a quantidade de erros que acontecem na televisão, com esta recente onda de enfocar a vida selvagem no Globo Repórter, vocês nem imaginam a quantidade de erros que acontecem, na filmagem, na locução e muito mais na edição. Tem muito biólogo que deu entrevista para a Globo e depois ficou um tempão explicando que não falou nada daquilo que foi mostrado. É que a Globo já criou o seu manual de vozes de aves para cenas globais. Cenas de senzala: voz do urutau; cenas de mata fechada: voz do cricrió; sobrevôo em mata: voz da harpia; falando de natureza em praças urbanas: o canto do sabiá. Ficou fácil para eles. (Ouça as vocalizações.) Pior de tudo foi assistir ao filme “Diamantes de sangue” não só pelo tema e o enredo. É que o pessoal de Hollywood colocou a voz do cricrió em plena África, onde ele não existe nem em gaiola, quanto mais livre na mata. Ficou difícil “entrar no clima africano” do filme com aquela ave brasileira cantando o tempo todo. Ou será que depois da turnê nacional dada pelo globo o nosso cricrió iniciou sua turnê pelo mundo?
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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