| Carlos Rizzo |  | | | Saíra-sete-cores. |
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Tenho um índice remissivo dos meus artigos sobre as aves de Ubatuba. Muitas vezes várias aves são citadas no mesmo artigo. O índice serve para me lembrar onde e quando escrevi o que. Consulto sempre que vou escrever. Dia desses quando fui atualizar o índice descobri que até hoje não havia mencionado a saíra-sete-cores. Logo ela, tão presente no dia-a-dia de tantas pessoas, até hoje não havia sido contemplada com um artigo. Logo ela, tão alegre, tão exibicionista, tão fácil de se ver e aprender a gostar. Nos primeiros dias de qualquer novo comedouro de frutas é a saíra-sete-cores a primeira a aparecer, aos bandos, no maior e despudorado escarcéu. Tanto que o caiçara chama esta saíra de saíra-banana. A impressão que ela nos dá é que ela é tão nossa que chegamos a imaginar que só temos em Ubatuba. Na verdade ela é de Mata Atlântica, ocorre no litoral desde o sul da Bahia até Santa Catarina e no planalto desde um trecho de São Paulo até Santa Catarina. Interessante das espécies que se alimentam essencialmente de frutas, como é o caso da nossa saíra, é que o território de ocorrência segue sem expansão. Diferente das espécies que se alimentam de grãos que, a cada dia que passa estão ampliando seus territórios e chegando em lugares que ninguém poderia imaginar. Fácil concluir que a saíra sendo uma ave de mata, e sabendo que a mata não está se expandindo, ela não se espalha também. Pior que durante muitos anos incluímos árvores ornamentais exóticas em nossos jardins, empobrecendo nossas áreas verdes nativas, rareando alimentos e colocando em risco de desaparecimento outras espécies de saíras. Ao contrário das áreas de agricultura que só fazem aumentar e em conseqüência oferecem cada vez mais alimentos para as aves de grãos. Da próxima vez que for plantar uma árvore, pense nas aves, e garanta o nosso futuro com mais alegria. Plante um pé de pixirica (Clidemia hirta), e faça uma singela homenagem ao pássaro mais simpático de Ubatuba.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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