Um novo estudo analisou as tonalidades de cores aplicadas com mais freqüência em fachadas de edifícios no Brasil para verificar as diferenças em absorção de calor proveniente da luz solar. A pesquisa avaliou 78 diferentes cores e tipos de tintas, entre acrílica fosca, acrílica semi-brilho e PVA fosca, extraídas dos catálogos de dois grandes fabricantes brasileiros. As cores que mais absorvem calor são as de tonalidade escura, como o preto, que absorve 98% do calor solar que chega à superfície, cinza-escuro (90%), verde-escuro (79%), azul-escuro (77%), amarelo-escuro (70%), marrom e vermelho-escuro (70%). O trabalho foi desenvolvido como tese de doutorado por Kelen Almeida Dornelles, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Por absorver grande parte da energia solar, essas cores contribuem para o aumento da temperatura da parede, transmitindo, assim, mais calor para o interior dos ambientes. O resultado é que o consumo de energia elétrica acaba sendo maior, devido ao uso de ar condicionado e de ventiladores", disse Kelen à Agência FAPESP. Os resultados do trabalho, orientado pelo professor Maurício Roriz, do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), também valem para telhados, ou seja, telhas de cores claras absorvem menos calor e podem contribuir para o menor consumo energético em dias de sol. A análise indica que, se as paredes externas fossem pintadas com cores claras, que absorvem pouca radiação solar, o ganho de calor também poderia ser reduzido, minimizando a necessidade de refrigeração artificial. Nesse caso, a cor branca absorve cerca de 20% do calor solar, seguido do amarelo-claro (28%), pérola (28%), marfim (28%), palha (30%), branco gelo (33%) e do azul-claro (35%). A pesquisadora explica que é difícil traçar uma média geral para quantificar a redução de energia elétrica, devido à grande variedade de tonalidades e tipos de tintas disponíveis no mercado. Mas citou resultados obtidos em um trabalho de mestrado, também apresentado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Unicamp, pela arquiteta Kellen Monte Carrières, que fez uma série de simulações computacionais de tintas e sua relação com o consumo energético, levando em conta características internas de escritórios de São Carlos. "Ao mudar a cor das paredes de amarelo terra, que tem uma tonalidade mais escura, para branco, por exemplo, as simulações indicaram uma redução do consumo de energia elétrica anual para refrigerar o ambiente de até seis vezes. Ou seja, o impacto é muito grande", disse Kelen. Isso considerando o mesmo tipo de tinta, a acrílica fosca, e apenas mudando a cor superficial da tinta. Segundo a engenheira civil, o tipo de acabamento da tinta utilizada também interfere na quantidade de calor absorvida pelas superfícies pintadas com uma mesma cor: as tintas acrílicas com acabamento semi-brilho absorvem mais calor solar do que as acrílicas com acabamento fosco. Tonalidades claras, menos luz O professor Maurício Roriz destaca que é preciso ter cautela na hora de escolher as tonalidades. As duas pesquisas orientadas por ele também indicaram que a cor branco gelo, por exemplo, reflete menos luz do que cores como marfim, pérola, palha (tons de amarelo-claro) e erva-doce (verde-claro). "É preciso ficar atento porque a coloração das tintas pode enganar. Em ambientes externos, nem sempre as cores mais claras absorvem menos luz solar, uma vez que mais da metade do espectro da radiação solar está na região do infravermelho, que não é visível a olho nu. Com isso, uma superfície visualmente clara pode concentrar mais calor do que uma superfície um pouco mais escura", disse Roriz Agência FAPESP. Segundo ele, o desempenho térmico e energético da edificação também é influenciado pelo projeto arquitetônico do edifício, que, para a economia de energia, deve priorizar a iluminação natural e a ventilação adequada. Roriz calcula que os edifícios sejam responsáveis por cerca de 34% de toda a energia produzida no Brasil. Um dos maiores desafios das pesquisas desenvolvidas na Unicamp e na UFSCar é fazer com que seus resultados cheguem até a população para a escolha adequada de tintas, levando em conta a diminuição do consumo de energia elétrica. Para isso, resultados da pesquisa têm sido apresentados em diversos congressos da área, como no 5º Encontro Latino-Americano sobre Conforto no Ambiente Construído, realizado em agosto em Ouro Preto (MG), ou no 10º Congresso Internacional de Tintas, de 24 e 26 de outubro, em São Paulo. "Nesses encontros, fabricantes de tintas demonstraram interesse em levar esse tipo de informação a seus clientes. Eles têm interesse em tornar disponível dados sobre absortância nos rótulos das tintas. Isso seria algo pioneiro no Brasil e permitiria que os usuários utilizassem a tinta com maior consciência ecológica", destacou Roriz. Para ler o artigo "Influência das tintas imobiliárias sobre o desempenho térmico e energético de edificações", apresentados nos congressos com base nos resultados da tese de doutorado de Kelen de Almeida Dornelles, clique aqui.
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