É estranha esta verdade, aliás todas as verdades são estranhas. Mas não podemos negar que quanto mais vivemos a vida, mais vivemos a morte. Do alto dos meus 53 anos, ainda não cruzei o cabo da boa esperança, mas já tenho uma grande quantidade de amigos e pessoas queridas que se foram. Minha família é exageradamente numerosa, não sei fazer progressões populacionais, mas em 1962, há 45 anos atrás, éramos mais de 100 pessoas. Aqueles que se foram por morte natural nos conforta imaginar que resolveram por morrer e, aqueles que nos foram arrancados por algum malgrado do destino sempre nos envolvem num inconformismo sem fim. Coisas da vida. De tudo, e por respeito ao Criador, imagino que um Dia de Finados nos obriga a festejar a vida. Mas é impossível olhar o que é o presente sem aquelas pessoas que se foram e, num exercício de vida, imaginar como seria diferente se ainda estivessem entre nós. Fico imaginando se Einstein, ainda vivo, teria resolvido seu dilema expresso na frase: "O universo e a estupidez humana são infinitos, do primeiro ainda tenho as minhas dúvidas". Como que prevendo que um dia estaríamos mergulhados neste maior elogio à estupidez humana que é o aquecimento global. Fico imaginando se Brasília estaria se chafurdando se Ulisses Guimarães ainda estivesse vivo. Fico imaginando se Lula teria seu viés chavezano se Tancredo Neves estivesse vivo para não lhe dar ouvidos. Que aliás, ao modo da Liza com "z" da "life is a cabaret" o certo é Lulla com dois "éles" de "na vida tudo é reles". Neste pequeno mundo que é nossa Ubatuba, fico imaginando este meu presente tendo ainda um Dito Paru, tendo ainda uma Eliana Oliveira, um Toninho Xerife, uma Amélia Olaio. Mais tantos outros que se foram e que pelo menos na minha vida estariam fazendo a diferença se ainda estivessem por aqui. Talvez Finados seja para, num elogio ao Criador, mostrar que estamos vivendo bem sem a companhia de todos que Ele alçou para junto de si. Mas, se o Senhor me permite, com a proliferação célere da idiotia, da estupidez e da falta de caráter, está difícil!
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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