Carlos Rizzo      Prédio a ser transformado em espaço cultural.

Vivemos num tempo que se convencionou chamar de pós-moderno. Um nome vazio já que não sabemos exatamente onde o "moderno" foi ultrapassado ou para onde nos orienta o novo que se anuncia de maneira tão vaga. O consenso indiscutível é que vivemos uma crise, não só econômica ou social, mas uma crise bem mais abrangente. Toda a ordem está sendo questionada.

Os chineses foram sábios quando usaram o mesmo símbolo que designa a crise para designar também a oportunidade. Do grego também tiramos lições, etimologicamente crise quer dizer, a possibilidade de tudo. Então, a crise pode e deve ser uma oportunidade especialmente produtiva.

Neste contexto e num primeiro momento, vimos surgir diversos movimentos e organizações trazendo nos seus ideais a necessidade da ética, da transparência e do combate à corrupção. Condições fundamentais no caminho que nos levará ao novo mundo da globalização. A globalização integra povos fortemente estabelecidos e provoca extremas desigualdades quando impõe a coexistência entre a alta tecnologia e o analfabetismo, entre a abundância e a fome, entre nações secularmente constituídas e povos emergentes. A globalização pasteurizou ou decadenciou valores nos expondo ao consumismo inconseqüente, à violência e à degradação. Aumentando assim, a urgência e a importância da valorização da cultura no reencantamento do mundo em que vivemos.

Não pudemos evitar fazer essas considerações iniciais diante da notícia que o prédio atualmente ocupado pelo Fórum, quando desocupado pela transferência do Poder Judiciário para o novo prédio, será transformado em espaço cultural.

Não é por acaso que o poder judiciário, tão invadido pela escalada da violência em Ubatuba deve se transferir do centro da cidade para um bairro afastado, não é por acaso que um movimento popular impôs ao prefeito e aos vereadores que aquele espaço agora seja ocupado por um teatro ou um centro cultural. Não é por acaso que o Grupo Ubatuba Viva com o lema "Em defesa da cidadania" se empenhou na conquista desse espaço cultural fundamental na composição do cidadão e na construção da cidade digna e respeitosa que Ubatuba merece e deve ser.

Infelizmente comenta-se pela cidade que alguns vereadores iniciaram um movimento para que a Câmara Municipal seja transferida para aquele prédio. Os senhores vereadores deveriam empenhar seus melhores esforços na construção de um prédio amplo e moderno próximo ao novo prédio do Fórum. Com instalações arquitetônicas adequadas às suas funções e obrigações, possibilitando assim, um diálogo mais afinado entre Legislativo e Judiciário e, pondo um fim nas adaptações e reformas que a inadequada ocupação atual tem imposta. Reformas e adaptações que do mesmo jeito o prédio do Fórum terá que sofrer para recebe-los. Os senhores vereadores prestariam um grande serviço desocupando e oferecendo aquele prédio histórico para que seja também utilizado em favor do enriquecimento e fortalecimento da cultura de Ubatuba.

A destinação do atual prédio do Fórum para a cultura encontrou adeptos entre os vereadores quando a mesa diretora também encaminhou uma solicitação ao Governador. O prefeito voltou atrás na cessão que havia feito à Cetesb para ocupação do prédio, acordando com o Grupo Ubatuba Viva da importância de um teatro para a cidade. Não vamos mudar as regras no meio do jogo.

Nosso próximo passo é a elaboração do projeto e a busca do suporte financeiro para as obras que devolvam as características físicas e funcionais daquele prédio. Desde já pedimos a colaboração da comunidade na reconstituição da história com fotos, jornais e documentos da época; colaboração na elaboração do projeto de implantação do teatro e na união pela manutenção do objetivo cultural que o Grupo Ubatuba Viva está propondo.