| CAR | | | | Tyrannus savanna (tesourinha). |
|
Realmente vivemos alguma alteração no tempo e na temperatura. Todos sabemos que o aquecimento é um fenômeno global e a despeito dos relatórios científicos parecerem distantes, podemos notar que o aquecimento global bate à porta de nossas casas com as mudanças no comportamento de algumas aves. Como se estivesse obedecendo ao nosso calendário, dia 20, quinta-feira passada, avistei os primeiros beija-flores preto e branco desta temporada, exatamente no mesmo dia que havia anotado no ano passado. Lembro que no ano passado os meteorologistas do INPE anunciavam uma primavera com temperaturas altas, exatamente como anunciaram, novamente, neste ano. Lembro, também, que os caiçaras antigos chamavam esta ave de beija-flor-das-almas, justamente pelo hábito de aparecem próximo ao dia de finados, por que estariam chegando tão mais cedo? No dia 14 passado em viagem para São Paulo, avistei numa parada em Jambeiro uma tesourinha-do-campo. Pensei comigo, logo elas estarão em Ubatuba. Dia 21, Dia da Árvore, durante a distribuição de mudas de árvores na Praça Treze de Maio, avistei as primeiras tesourinhas-do-campo em Ubatuba. Muitos confundem a tesourinha com a andorinha-tesoura, mas elas têm grandes diferenças. A andorinha voa o tempo todo, e a tesourinha tem o hábito de ficar pousada esperando algum inseto e quando encontra, voa para capturá-lo, para em seguida voltar para o mesmo galho. Este hábito é comum nos tiranídeos, e podemos observar na tesourinha (Tyrannus savana), ou no suiriri (Tyrannus melancholicus) ou ainda no bem-te-vi (Pitangus sulphuratus). O beija-flor preto e branco e a tesourinha são duas aves migratórias e com hábitos diferentes. Enquanto o beija-flor é litorâneo e no verão migra no sentido norte sul, a tesourinha vive e migra em todas as altitudes e no verão migra no sentido oeste leste. No ano passado anotei as primeiras tesourinhas em outubro (10) e este ano elas chegaram 20 dias mais cedo reforçando, pelo menos para mim, que teremos muitos dias quentes pela frente. O aquecimento global é provocado por todos nós e, não se vislumbra qualquer solução eficaz enquanto consumirmos tanto carbono para satisfazer nossas necessidades calóricas, só para você ter uma idéia do estrago que cada um de nós está fazendo no planeta, clique aqui e veja quantas árvores são abatidas para garantir nossos hábitos. Que espécie de vida estamos “construindo” para nós? E os nossos filhos e netos?
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
|