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Internacional
18/07/2007 - 06h46
Gigante de pés de barro
Fábio de Castro - Agência FAPESP
 

"A próxima grande crise econômica acontecerá na China, que, ao contrário do que se diz, não se tornará a maior potência mundial." A previsão foi feita categoricamente por Pao-yu Ching, professora emérita do Marygrove College, em Michigan, dia 11/7, durante a 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belém.

De acordo com a economista chinesa radicada nos Estados Unidos há 30 anos, o avassalador crescimento econômico chinês não é sustentável e, apesar dos números positivos na última década, o país está fora de controle.

"A economia mundial está entrando em um período de baixo crescimento. A China, dependente das exportações, sofrerá um impacto violento. Eu realmente acho que estamos na iminência de uma crise econômica capitalista talvez sem precedentes", disse Pao-yu à Agência FAPESP.

Segundo ela, o processo de restauração capitalista na China deixou uma pequena parte da população em situação muito boa, mas as condições sociais da esmagadora maioria, especialmente camponeses, são desastrosas.

"A demanda doméstica é muito pequena, porque as pessoas não têm poder de consumo. Por essa razão, há uma capacidade excessiva em várias indústrias, como eletrodomésticos, automóveis ou bicicletas. Muitas delas estão com capacidade tão grande que não podem mais continuar a investir. E, se elas não investem, a economia desaquece", destacou.

Crise em todas as áreas

O desenvolvimento capitalista na China, desde a reforma de 1979, trouxe boas estatísticas à macroeconomia. Mas, desde então, saúde, educação, habitação e o próprio trabalho se tornaram mercadorias, impedindo o acesso da população com salários baixos.

"As condições sociais na China são muito ruins e ficarão piores. Há muita gente trabalhando no setor informal, em cenário parecido com o do Brasil. O desmantelamento das comunas em 1984 causou um êxodo rural incessante. Na cidade, os camponeses não encontram meios de subsistência - não têm renda, nem escolas, nem acesso a hospitais. A crise atinge todas as áreas, inclusive o meio ambiente", afirmou.

Para Pao-yu, as previsões de que o crescimento econômico da China levará o país a ser uma potência mundial que concorrerá com os Estados Unidos são uma ilusão. "Minha visão é completamente oposta. Em 1994 e 1995, os tigres asiáticos estavam crescendo muito rapidamente, mas na Malásia, na Tailândia ou nas Filipinas todos sabem que a população ainda sofre com a crise de 1997."

De acordo com a economista, a China, depois de entrar na fase de desenvolvimento capitalista, tornou-se economicamente semelhante a qualquer outro país pobre, mas sem liberdade política. Ou seja, o resultado para a maioria da população foi o pior dos dois mundos.

"Antes havia baixos salários, mas os preços também eram pequenos, porque as necessidades básicas não eram confundidas com mercadorias. Isso diferenciava a China dos outros países pobres. Nesses países há fome não porque haja escassez de comida, mas porque os pobres não têm recursos para comprar alimentos. A China agora é assim", destacou.

Segundo Pao-yu Ching, toda a situação crítica da China não é evidente em boa parte das cidades. "Se você for para lá agora, a situação pode até passar despercebida, em meio à modernidade das cidades. Cerca de 20% da população vive com fartura e as estatísticas mostram que o país está bem. Mas se trata de uma economia unicamente exportadora", disse ela.

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