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Brasil
16/07/2007 - 16h12
Pesca de arrasto prejudica peixe-espada
Valéria Dias
 
Estudo inédito revela pesca e genética do peixe-espada no Brasil

Agência USP de Notícias - Apesar de estar entre as 11 espécies mais pescadas no mundo, a comercialização do peixe-espada (Trichiurus lepturus) no Brasil ainda é baixa. Entretanto, ele já vem sofrendo os danos causados pela pesca de arrasto. "O espada vem junto nas redes com espécies como a corvina e a pescada, mas é descartado, principalmente no Sul do Brasil, pois não tem valor comercial", conta a pesquisadora e professora do ensino fundamental, Marizilda Magro.

Os dados estão descritos na tese de doutorado da professora, apresentada em 2006 no Instituto Oceanográfico (IO) da USP. A pesquisa, realizada entre 2002 e 2003, é pioneira no Brasil na análise dos aspectos relacionados à pesca e à genética do espada ao longo da costa brasileira. "Para haver o manejo na pesca de uma determinada espécie é preciso antes de tudo conhecê-la a fim de preservá-la", ressalta.

Em São Paulo, o local de coleta foi o Guarujá, onde descarregam as parelhas, pares de embarcações comerciais de médio porte que arrastam redes de fundo na plataforma continental, capturando grande quantidade e diversidade de peixes. "Sendo uma pesca multiespecífica, o arrasto de fundo captura todo tipo de peixe, inclusive fêmeas em fase de reprodução e filhotes ainda imaturos", alerta Marizilda.

Cinco toneladas

Segundo a professora, esses barcos ficam cerca de 15 dias no mar, sendo necessário aproveitar todo o gelo e o espaço disponíveis na embarcação para as espécies de maior valor comercial. Com isso, ocorre o descarte de muitas espécies. "Um pescador me relatou que numa dessas viagens foram descartadas, em alto mar, cerca de cinco toneladas de espada, com fêmeas prontas para desovar", lamenta a pesquisadora.

Já no Rio de Janeiro, em Arraial do Cabo e São Pedro da Aldeia, a pesca é artesanal, feita em pequenos barcos, com linha de mão para consumo próprio ou venda local, não afetando tanto a espécie. São capturados apenas os espadas maiores, porque os menores não conseguem se enroscar no anzol. "Alguns pescadores chegaram até a montar uma cooperativa e produzem filé, hambúrger, steak e almôndega da carne do peixe", conta Marizilda.

Em Santa Catarina, na cidade de Porto Belo, a pesca é com cerco flutuante e também pouco afeta a população do espada. As redes ficam fixadas junto à costa. Ao entrar, o peixe fica preso e não consegue sair. "Mas os animais muito pequenos conseguem escapar devido ao tamanho da malha da rede", esclarece.

Genética

Sob o aspecto genético, a pesquisadora coletou exemplares em Belém, Natal, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Foram usados marcadores moleculares tipo RAPD (Randomly Amplified Polimorphic DNA) para analisar a estrutura genético-populacional da espécie. De acordo com Marizilda, o espada pode ser considerado, em Belém, uma população diferente da encontrada no sudeste-sul devido ao isolamento ambiental. "A hipótese é que o Delta do Rio Amazonas funcione como barreira natural separando a população de espada local do restante da costa brasileira", considera. Ela ressalta, porém, que ainda são necessários estudos mais detalhados para confirmar essa hipótese.

Analisando a estrutura populacional - como tamanho e período de reprodução, peso e tamanho do peixe adulto, taxas de mortalidade e de longevidade, entre outras informações - foi possível estabelecer parâmetros para manejo sustentável da espécie, como o tamanho que a malha das redes deveria ter para evitar a captura de peixes imaturos. A pesquisadora também considera fundamental a criação de grupos de estudo, não só do espada como de outras espécies, no mesmo padrão dos grupos permanentes de trabalho, que até pouco tempo atrás analisavam a sardinha na costa sudeste do Brasil (GPEs).

O peixe-espada tem esse nome por ser longo, fino e prateado, semelhante a uma espada. Seu sabor é mais suave que o da pescada e apresenta uma vantagem em relação ao atum e a sardinha: sua carne tem pouca gordura. É muito consumido no Japão e em outros países do sudeste asiático.

Mais informações: (0**11) 9118-5149, ou e-mail tucamm@gmail.com, com Marizilda. Pesquisa orientada pelo professor Miguel Petrere Junior (Unesp) e co-orientada pelo professor Alexandre Wagner Silva Hilsdorf (UMC).

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