Empresário que se crucificou em frente do Congresso diz querer mostrar aos brasileiros o valor do protesto
Marcello Casal Jr / ABr | |
A insatisfação diante de denúncias de corrupção levou o empresário mineiro André Luiz dos Santos, 46 anos, a realizar protestos solitários em defesa do fim da impunidade. Desde o ano 2000, foram seis manifestações. As cinco primeiras foram na sua cidade natal, o município de Ponte Nova, no interior de Minas Gerais, onde vive até hoje com a mulher e os três filhos num bairro de baixa renda. O mais recente protesto foi em Brasília, no mês passado, quando Santos simulou estar pregado em uma cruz de 25 quilos e segurou cartazes com os dizeres: "Pai, perdoai-os. Eles não sabem o que fazem" e "A violência do Brasil começa aqui. Congresso, a vergonha do Brasil". Uma pesquisa divulgada no dia 26/06 pela Confederação Nacional do Transporte (CNT/Sensus), mostra que a corrupção é o principal motivo que leva os brasileiros a não se orgulharem do Brasil. Entre nove opções, 41,3% dos entrevistados escolheram a corrupção. Em seguida vêm a violência (17,1%) e a pobreza (12,7%). Durante uma semana, Santos expressou seu sentimento de revolta em relação à corrupção em frente ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto, e ao Supremo Tribunal Federal, em locais de grande circulação de pessoas. Em entrevista por telefone à Agência Brasil, ele contou que, a cada dia, passava cerca de três horas apoiando a cruz nas costas. Nos protestos anteriores, o alvo escolhido era a administração municipal de Ponta Nova (MG), que, segundo o empresário, não "corresponde à expectativa da população que a escolheu". Em 2000, ele montou uma forca ao lado de um semáforo próximo à prefeitura, onde, nos horários de pico, simulava diariamente que estava sendo enforcado, durante seis meses. Na manifestação seguinte, Santos ficou sentado num banco amarrado a cerca de 4 metros de altura, num poste de luz. Depois, ele prendeu uma gaiola no poste e passava parte do dia sentado lá dentro. Meses depois, teve a idéia de fazer uma contagem regressiva para o final do mandato do prefeito. Para isso, confeccionou uma espécie de folhinha gigante, onde chamava a atenção da população para os 224 dias que faltavam para o término da gestão. No final de 2005, ele conta que soltou 15 ratos na rua para simbolizar a contaminação da política por pessoas descompromissadas com a sociedade. Para Santos, apesar de solitários, os protestos servem para que outros brasileiros percebam a importância de se indignar contra os casos de corrupção. "Tudo que eu fiz foi com o prazer de fazer com que as pessoas enxergassem o valor dos manifestos. A gente tenta mudar (a situação de corrupção) através do voto, mas, depois que assumem, os políticos mudam. Parece que tem um fetiche que muda as pessoas, o poder as corrompe", afirma Santos, um dos oito filhos de uma prostituta, que também trabalhava como lavadeira para sobreviver. Segundo o empresário, suas manifestações sempre são pacíficas, e ele costuma receber o apoio da comunidade. Ele disse que, em Brasília, ganhou a simpatia de muitos funcionários do Congresso, inclusive das polícias legislativas. "Eles falavam o seguinte, ’cara você está certíssimo, mas eu não posso fazer nada, porque aqui é o meu emprego’". Santos diz que entende quem prefere não manifestar publicamente a insatisfação com os casos de corrupção. "Os brasileiros em geral têm medo: de perder o emprego, de serem criticados, chamados de fanáticos, ou que só querem aparecer". "Mas eu sinto o maior orgulho de falar o seguinte: eu sou o verdadeiro brasileiro. No meio de 190 milhões de brasileiros eu estava lá", completa. No Congresso, o empresário lembra que também reconheceu parlamentares que chegavam de carro para trabalhar. "Mas não foi nenhum deputado ou senador lá ver o que eu estava fazendo. Não teria condição de eles não me verem, porque eu fiquei bem na esquina. Eles viravam a cara, baixavam a cabeça, alguns começavam a ler ou ficavam cabisbaixos. Eu senti revolta." André Luiz dos Santos já decidiu que o próximo protesto também será em Brasília, mas ainda não marcou a data. Ele adianta que segurará cartazes com os dizeres: "Pai, perdoai-os. Eles sabem o que fazem", "Porque os três poderes são hoje o esgoto do Brasil" e "Compro rato ao redor do Congresso, do Judiciário e do Executivo". O empresário disse que, desta vez, não usará ratos durante a manifestação. "Já tem muitos ratos aí."
|