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COLUNISTA
Carlos Rizzo
21/06/2007 - 11h17
O silêncio dos nada inocentes
 
 
 
Arquivo CAR 
  Detalhe de uma asa.

Quem já teve a oportunidade de ouvir os mais diversos sons que o voar de cada ave tem, sabe muito bem o quanto é silencioso o vôo das aves de rapina.

Certa vez meu filho Tiago e eu estávamos caminhando por uma trilha quando de longe avistamos um gavião-pega-macaco pousado à beira de um pequeno lago. Impressionava pelo tamanho, perto de 70 cm, e pela imponência própria da espécie. Observamos e demos um passo, novamente observamos e mais um passo. Fomos assim até alcançar uma distância de uns quatro metros. Sussurrei para o meu filho que aquela distância era o limite permitido pela ave, observamos imóveis os mais diversos detalhes e, para testar o limite da distância, avisei o meu filho e ameacei dar mais um passo. O gavião saltou, deu uma batida de asas e silenciosamente saiu planando na mata fechada. Um silêncio impressionante para o tamanho da ave.

Temos em Ubatuba um minúsculo beija-flor que o caiçara chama de beija-flor-mamangava. Não é pelo tamanho, ele é menor que o inseto, mas sim pelo zunido que faz ao voar, igual ao som da mamangava.

É muito simples, vá até a Praça da Matriz e preste atenção no barulho que os pombos fazem ao voar. Vá até a Ilha dos Pescadores e ouça com clareza o som das asas dos urubus, dos biguás e das garças, é fácil distinguir as aves pelo barulho que fazem ao levantarem vôo ou ao pousarem.

Não no caso das aves de rapina. Águias, gaviões, falcões, corujas todos têm um vôo assustadoramente silencioso. Hábeis caçadores que são, os rapinídeos possuem uma visão telescópica para uma avaliação perfeita do alvo e o silêncio no vôo para se aproximarem com total surpresa da vítima.

O silêncio no vôo nada inocente das aves de rapina se deve basicamente à maciez das suas penas e ao pequeno detalhe nas penas das extremidades das asas. Se olharmos com atenção ao detalhe da asa na foto, veremos que a parte mais grossa das penas internas possuem um acabamento liso e arredondado Diferente das penas externas que possuem uma série de minúsculas penas transversais para “quebrar” o ar antes que ele faça qualquer barulho.

O falcão-pelegrino voa a 300 km por hora, um gavião enxerga uma caixa de fósforos a quilômetros de distância, no escuro das noites as corujas enxergam 250 vezes mais do que nós, simples humanos.


Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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