Tendência de futuro nas grandes cidades. Espaços ociosos se transformam em fonte de alimento e renda
Resultados parciais de uma pesquisa inédita realizada em onze regiões metropolitanas do Brasil acabam de identificar 635 experiências de agricultura urbana consolidadas em pleno coração das cidades - terrenos baldios, locais que poderiam ser depósitos de lixo e entulho, fundos de quintal. Para entender melhor o que isso significa é simples: basta pensar que famílias que vivem em comunidades nas periferias das cidades em regiões metropolitanas, composta por trabalhadores urbanos desempregados, cultivam a terra, vendem a produção em feiras populares e industrializam alimentos. Desta forma, se organizam e garantem um dos mais essenciais direitos do ser humano: a alimentação saudável. Os agricultores familiares urbanos estão provando que a terra dos espaços urbanos sem uso e sem cumprir sua função social, pode se transformar em terra de trabalho, sobretudo, terra de vida, chão para resgatar a dignidade da família. A pesquisa participativa realizada com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) teve a cooperação técnica institucional do Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO, que firmou acordo com a organização não-governamental Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas em parceria com o Ipes - Promocion Del Desarollo Sostenible para a execução desse grande mapeamento. A apresentação dos resultados em Brasília, durante os dias 31 de maio e 1º de junho, reuniu organizações sociais envolvidas representando as experiências relatadas em todas as regiões brasileiras. O evento significa mais um passo para a consolidação de uma tendência que já se percebe em várias cidades da América Latina e do Norte, Caribe, Europa, Ásia e África. Contudo, para o MDS e seus parceiros, a agricultura urbana é considerada uma estratégia política para o combate à fome e a promoção da segurança alimentar e nutricional das populações pobres urbanas. Belos exemplos foram encontrados em Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG); Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE) e Belém (PA) e Brasília (DF) e Goiânia (GO). O governo brasileiro, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, investe por ano cerca de R$ 10 milhões do seu orçamento na implantação de programas e ações de agricultura urbana operados por uma rede de 130 parceiros governamentais, universidades e ONGs. É ação efetiva e possibilitadora e mais do que uma esperança futura - é uma oportunidade concreta para assegurar alimentação adequada, bem como a emancipação econômica das famílias de trabalhadores pobres das cidades. A terra, embora urbanizada, nestas mãos agricultoras cumpre importante função social. Uma boa notícia revelada pela pesquisa é que a agricultura urbana é praticada nas regiões metropolitanas brasileiras num modo de produção agroecológico, sem uso de agrotóxicos e tecida na organização coletiva comunitária, na perspectiva de uma economia solidária. Nota do Editor: Crispim Moreira é Diretor da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
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