| Jehu Tozaki | | | | Carlos Rizzo e um papagaio-curau, Amazona aestiva, na Praça 13 de Maio, Centro. |
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Estou realizando um levantamento das aves da Praça 13 de Maio. Sempre que possível dou uma volta por lá e vou anotando, dia-a-dia, o que vejo e ouço e sempre considero os relatos que o Wilson, que trabalha no posto Shell, faz das suas observações diárias. Nesta manhã (13/06) passeando pela praça ouvi uma vocalização diferente e quando fui procurar dei com este papagaio perdido nas árvores de lá. É um papagaio-curau, Amazona aestiva. Sabemos que não é uma ave comum na nossa Mata Atlântica e sua presença ali era com certeza, por ter escapado de algum cativeiro. Das sete horas até as oito horas apareceram mais de dez donos do papagaio fora outro tanto de pessoas que se dispunham a qualquer coisa para pegá-lo com a condição de poder levá-lo para casa, foi quando resolvi ligar para a Polícia Ambiental. Parecia que a situação fugiria do controle se todos avançassem sobre o pobre coitado. Fiquei impressionado com a disposição que todos demonstravam em ter um papagaio como se fosse um simples objeto de consumo. É justamente esta febre de consumo que leva as pessoas a pagarem qualquer preço por um exemplar. Nem me importo, pelo valor monetário, se alguém se dispõe a gastar o que tem. Incomoda lembrar que para cada papagaio em cativeiro, usado no deleite exclusivo de uma família, dita humana, nove exemplares do animal morreram nas mãos dos traficantes. Que na ponta oposta da família a se encantar com a ave, está uma comunidade induzida a capturar e a vender por valores insignificantes riquezas que não lhes pertencem. Incomoda saber que o traficante sempre ganha, e a natureza sempre perde. A legislação é inepta e a fiscalização torna-se frouxa. Outro dia recebi um canário-da-terra, Sicalis flaveola, morto por uma trombada com uma vidraça, estava anilhado e resolveram me entregar para pesquisar sobre o registro. Já sei que é uma anilha falsificada, mas até agora o Ibama não se pronunciou oficialmente sobre o registro. Muitas pessoas querem ter a sua avezinha em casa e pensam em comprar legalmente, escapam das mãos dos traficantes e caem nas mãos dos fraudadores. O mercado é que impõem todas as falcatruas e traficâncias e, o mercado, muitas vezes, é composto por pessoas honestas que insistem em manter a absurda cultura da superioridade humana sobre a natureza. Para estas pessoas vale lembrar que houve um tempo, neste nosso maravilhoso Brasil, que os negros eram considerados inferiores e por isso podiam sofrer a escravatura. E o sofrimento de um povo fazia parte da nossa cultura, era tido como “normal”. Até quando vamos impor mazelas à natureza? Até quando vamos nos sentir superiores com nossas parvoíces?
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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