| Reprodução | | | | Rota migratória, imagem do livro Aves brasileiras, de Johan Dalgas Frisch. |
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Posso até estar errado, mas muito mais por admiração do que por fato comprovado, as andorinhas são as maiores aves migratórias. Atravessam mares e continentes como nos conduzimos ao nosso local de trabalho. Voar para as andorinhas é como respirar, seu vôo é tido como o de menor esforço e já no primeiro vôo é capaz de voar por 24 horas ininterruptas. A primeira vez que vi o espetáculo das andorinhas migratórias dos Estados Unidos foi em 1965 na cidade de São José do Rio Preto, SP. Eram nuvens de andorinhas que escureciam o dia e elas dormiam numa praça da cidade que se tornava impossível passar por ali sem levar várias carimbadas. Naquela época eu não sabia, mas elas estavam sendo objeto de estudo. O ornitólogo brasileiro Dalgas Frisch, com ajuda da NASA inclusive, iniciava um estudo que comprovou que as andorinhas daquele interior de São Paulo vinham dos estados do Kansas e Missouri na América do Norte. Estima-se que perto de seis milhões de indivíduos voam 10 mil quilômetros e em sua estada no Brasil consomem perto de um trilhão de insetos. Cada uma consome dois mil insetos por dia representando um fator importante no equilíbrio do ambiente. Aquela é a andorinha-azul ou a Progne subis que por muitos anos foi confundida com a nossa Progne chalybea que depois de dois anos de vida perde o azul total e adquire algumas manchas brancas. As duas são pequenas e é comum encontrá-las zinzilulando nos fios elétricos. Se a Progne subis é uma migratória transcontinental, a nossa Progne chalybea migra pela América do Sul do mesmo jeito que os andorinhões que dormem na Câmara Municipal, estes são de outro gênero, são Cypseloides fumigatus e migram pelo litoral do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul. Mas Ubatuba é diferente, temos uma andorinha que é só nossa e é justamente a andorinha-de-calcinha-branca ou a Neochelidon tibialis, ela é endêmica, visível no verão que mais uma vez passou sem que eu visse o branco da calcinha dela.
Se você pensa que uma andorinha não faz o verão, está correto, em Ubatuba são oito espécies de andorinhas e cinco espécies diferentes de andorinhão a fazer o nosso verão. Para mim é muito difícil falar pouco sobre as andorinhas, aprendi a admirá-las desde cedo e o branco da calcinha de uma delas só fez aumentar meu interesse. Deixa estar, no próximo verão vou conseguir.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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