Nas áreas metropolitanas, o problema da poluição do ar é uma das mais graves ameaças à qualidade de vida de seus habitantes. As emissões causadas por veículos carregam diversas substâncias tóxicas que, em contato com o sistema respiratório, podem produzir efeitos negativos sobre a saúde. O Estado de São Paulo enfrenta uma situação preocupante por deter 37% da frota automotiva do País. Dados fornecidos pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) apontam que, em dezembro de 2006, o Estado registrou mais de 10 milhões de automóveis. Segundo informações do Detran (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), só na Capital já são mais de quatro milhões de veículos. Por outro lado, São Paulo ostenta o primeiro lugar no cultivo de cana-de-açúcar, matéria-prima principal para produção do álcool. Pesquisadores do mundo inteiro têm reconhecido o etanol, que é um álcool extraído de vegetais como cana-de-açúcar, como a "gasolina ecológica" do futuro por reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2). Renato Link, gerente do setor de engenharia automotiva e certificação da Cetesb (Companhia de Tecnologia Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), concorda. Para ele, o melhor tipo de combustível é o renovável, que utiliza como matéria-prima elementos renováveis da natureza. Além de serem fontes inesgotáveis de energia, não geram aumento de CO2 e outros gases nocivos na atmosfera, uma vez que as emissões geradas pela queima dos mesmos é re-absorvida pela biomassa. Ao contrário dos combustíveis renováveis, que representam um ciclo fechado de carbono, os combustíveis fósseis como o petróleo e o carvão mineral lançam carbono adicional na atmosfera (carbono que estava armazenado há milhões de anos), agravando o efeito estufa. Dentro da categoria dos renováveis, Link destaca o etanol. E, para o especialista, o produzido com a cana-de-açúcar é a opção com mais benefícios aos consumidores e ao meio ambiente. O Brasil é pioneiro no uso do etanol. A história do etanol no País é anterior ao Proálcool, programa criado pelo governo na década de 70 para desenvolver a produção do álcool de cana. Os primeiros usos do álcool foram feitos há 100 anos, quando os carros começaram a chegar no País. Durante a crise da década de 30, o combustível também foi utilizado para substituir os combustíveis tradicionais. Vantagens do etanol Renato Link explica os benefícios de utilizar o combustível que, comparado à gasolina, apresenta maior torque, aceleração e velocidade do motor. "O álcool, do ponto de vista técnico, é um combustível que dá alta performance ao veículo", diz o gerente da Cetesb. As vantagens para o meio ambiente são ainda mais interessantes. O álcool é um combustível oxigenado que reduz a emissão bruta do motor, que é aquela que vai direto para o escapamento do carro (nos modelos mais novos, dos últimos 10 anos, o catalisador e a injeção eletrônica diminuem a emissão bruta). Os combustíveis, como a gasolina, para serem queimados necessitam de oxigênio. O CO2 presente nos combustíveis reage com o oxigênio. Quando misturada com o etanol, a gasolina consegue aproveitar o oxigênio existente no álcool, deixando de retirar oxigênio da atmosfera para esse processo. O etanol da cana-de-açúcar quando queimado também libera carbono no ar. Porém, em dois anos a plantação de cana, submetida ao sol, retira do ar o carbono disparado durante todo o processo de queima do combustível. Estudos apontam que, no segundo ano do ciclo de vida da cana, a quantidade retirada do ar chega a ser maior que a emitida. Outro bom motivo para eleger o álcool: a toxicidade é bem menor que o petróleo. Para remover um vazamento de petróleo na água e no solo são necessárias grandes operações com produtos químicos. Se há um vazamento de álcool, segundo Link, em questão de dias processos naturais fazem o combustível se desintegrar, tanto na água quanto no solo. O álcool evapora e não provoca reações secundárias na atmosfera. É difícil imaginar um acidente ambiental com etanol. São tantas vantagens que a indústria automobilística nacional tem concentrado a produção nos veículos flex fuel, que podem circular com álcool, gasolina ou com os dois combustíveis. Informações da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) apontam que, dos 1,5 milhão de veículos comercializados em 2006, quase 1,3 milhão são bi-combustíveis. Não foram só os brasileiros que reconheceram a importância de utilizar o álcool. Outros países têm demonstrado interesse no nosso combustível, especialmente por duas razões: redução do consumo de derivados de petróleo e oxigenação da gasolina. O álcool tem características que aumentam o índice de octanagem do motor, que é o índice de resistência à detonação dos combustíveis. Desde a década de 90, com a utilização do álcool puro ou na gasolina, o chumbo tetra-etila não é mais adicionado ao combustível brasileiro. Esse composto que garante a octanagem é totalmente prejudicial ao meio ambiente e ainda é utilizado em países da Ásia, África e Europa.
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