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Sabe aquela senhorinha, bem vestida e cheia de charme que andava com dificuldades pelas calçadas do centro da cidade. Que de repente aparecia andando para conferir a árvore de dois tons da avenida, que se intrigava com a garça-dorminhoca que surgia nos finais dos dias. Que se dizia uma eterna aprendiz, que se encantou com a recente descoberta da saí-azul-da-perna-preta. Que recusava homenagens aos seus talentos e conhecimentos, que homenageava a todos com sua doçura e simplicidade. Uma senhorinha que carregava uma eterna criança dentro de um corpo cansado pelos oitenta e tantos anos.

Aquela senhorinha chamava-se Amélia Olaio. Ontem fez sua última travessura e nos deixou órfãos.

Todos aqueles que encontram abrigo na Ciência, todos aqueles que acreditam na Pesquisa, todos aqueles que se preocupam em traduzir o criador e sua obra, todos estamos órfãos. Morreu Amélia Olaio. Nossa maior representante da gravura científica da natureza.

Vou sentir falta das suas perguntas, das suas doces polêmicas e das tarefas que se permitia dividir comigo.

Se Deus é as flores e as árvores
e os montes e sol e o luar,
então acredito nele,
então acredito nele a toda a hora,
e a minha vida é toda uma oração e uma missa,
e uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
e os montes e o luar e o sol,
para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
porque, se ele se fez, para eu ver,
sol e luar e flores e árvores e montes,
se ele me aparece como sendo árvores e montes
e luar e sol e flores,
é que ele quer que eu o conheça
como árvores e montes e flores e luar e sol.

E se Fernando Pessoa (autor dos versos acima) me permite, Dona Amélia Olaio com sua vida acrescentou:

E as aráceas.