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Brasil
26/02/2007 - 18h11
Caramujo-gigante africano: carregador de problemas
Washington Castilhos - Agência FAPESP
 

O que era para ser solução virou dor de cabeça. Trazido para o Brasil há duas décadas como uma alternativa para substituir o escargot, o caramujo-gigante africano (Achatina fulica), além de representar grande dor de cabeça para o meio ambiente e a agricultura, tornou-se alvo de preocupação da saúde pública.

Como a espécie acabou não servindo como opção culinária, os criadores começaram a se livrar de maneira inadequada dos exemplares, soltando-os em rios, matas e terrenos baldios, onde se multiplicaram rapidamente. Hoje, o Brasil está vivendo a fase explosiva da invasão e uma grande preocupação é que o caramujo possa servir como vetor de parasitas causadores de doenças fatais, como a meningite eosinofílica e a angiostrongilíase abdominal.

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) está monitorando a presença de parasitas em caramujos pelo país. "Temos encontrado exemplares grandes, a população está muito densa", disse a bióloga Silvana Thiengo, pesquisadora do Laboratório de Malacologia do IOC e responsável pelo Centro Nacional de Referência em Malacologia Médica.

"O ciclo da doença envolve o molusco e um roedor. O homem pode entrar acidentalmente no ciclo e ser infectado quando ingere o molusco contaminado com as larvas ou quando o manipula e leva a mão à boca. Ou ainda quando, sem os devidos cuidados, come hortaliças contaminadas com larvas do parasita, que saem no muco do molusco", advertiu.

Por meio da técnica de digestão artificial, Silvana e colegas têm examinado centenas de caramujos, enviados pelas secretarias de saúde de diversos Estados. "Já encontramos larvas de parasitas de aves e de outros animais domésticos. Mesmo sendo até agora apenas de interesse veterinário, o fato indica que a população de caramujo africano já está inserida no ciclo dos parasitas que vivem no Brasil. Nossa maior preocupação é que, pela proximidade com residências, ele possa vir a se infectar com outras formas de parasitas e se tornar um hospedeiro no ciclo de doenças humanas", disse.

A técnica de digestão artificial consiste em digerir o molusco em uma solução composta de ácido clorídrico e pepsina, encontrados no suco gástrico do ser humano e também em roedores. "Em uma ingestão natural, a larva é liberada dos tecidos do molusco e vai até o intestino humano, onde se tornará um verme adulto. Se o molusco que recebemos chegar aqui com a larva, ele irá liberá-la durante o processo de digestão artificial. Com isso, saberemos o tipo de parasita que ele carrega", explicou Silvana.

Dois tipos de parasitas perigosos podem ser encontrados na secreção do caramujo-gigante africano. Um deles é o Angiostrongylus costaricensis, causador da angiostrongilíase abdominal, doença que pode resultar em morte por perfuração intestinal e peritonite e que ocorre principalmente no Sul do Brasil.

O outro é o Angiostrongylus cantonensis, causador da meningite eosinofílica - doença endêmica na Ásia pelo hábito nativo de comer caramujos, peixes e crustáceos crus, mas há relatos da doença nos Estados Unidos e no Caribe.

Adaptação mundial

Cerca de duas décadas depois de ser introduzido no Brasil, o caramujo-gigante africano está presente, além do Distrito Federal, em 23 dos 26 Estados, incluindo a região amazônica e reservas ambientais. No total de 5.561 municípios brasileiros, há registros da presença do caramujo africano em 439 - cerca de 8%. Um dos Estados com maior infestação é São Paulo. No Rio de Janeiro, a espécie está presente em 57 dos 92 municípios.

O Brasil não é o único país onde a espécie Achatina fulica conseguiu se adaptar. Nos Estados Unidos, o molusco foi introduzido no Havaí, em 1939, chegou à Califórnia no final da 2ª Guerra Mundial e alcançou a Flórida em 1975.

"No Brasil, há uma serie de restrições ambientais para o combate ao caramujo. O uso de pesticida tem implicações ambientais muito sérias, pois pode matar toda a fauna. A saída deve ser a coleta e a educação e informação à população", afirmou Silvana Thiengo.

Para a pesquisadora do IOC, como não existe moluscicida ou método para eliminar o caramujo em grande número sem danos para o meio ambiente, a solução é o controle por parte da população.

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