Quando mencionei o Laos, a amigos e familiares, como país parte de meu itinerário no sudeste asiático em dezembro de 2006, a maioria deles não tinha a menor idéia onde ficava tal país e, sequer, que era um país! Um país muito interessante, 6 milhões de habitantes, espremido entre a China, Vietnã, Tailândia, Camboja e Mianmar. Como o Vietnã, também vítima da insanidade americana no suposto "combate ao comunismo". Duramente bombardeado, ainda exibe as cicatrizes de tal violência na presença de minas terrestres não detonadas, que recamam a vida de dezenas de pessoas, ainda, todos os anos. Principalmente crianças, que pensam que as tais "bolinhas" são brinquedo. E para que? A foice e o martelo continuam lá, na vermelha e flamejante bandeira do partido comunista, exibida com orgulho por toda parte. Nada o que temer no sentido turístico. O país é extremamente aberto a estrangeiros, seu povo dos mais amáveis que já encontrei em minhas viagens pelo mundo e se esforçam ao máximo para agradar. E agradam. Os preços são camaradíssimos (um casal faz a festa com compras, transporte e ótimos restaurantes com US$ 100 por dia), a comida boa, as atrações, inúmeras. Tudo em clima de serenidade e segurança. Exemplo? Ficamos "micados" com van quebrada, 2 vezes, em estradas no relevo montanhoso do país. Outros carros pararam imediatamente para ajudar. Assaltos a mão armada? Praticamente inexistentes e tratar bem os turistas é ponto de honra; além da sumária pena de morte que mantém os possíveis facínoras sob controle. A pena de morte já vem mencionada no pedido de visto, facilmente obtido no aeroporto. Vem relacionada ao tráfico de drogas, praga que os ingleses trouxeram há séculos para a região, introduzindo o consumo e incentivo à plantação de ópio. Contudo, deixaram também uma coisa boa: resquícios de seu idioma, hoje a língua - franca do mundo todo. No Laos, é bem mais fácil viajar de modo independente - podendo-se facilmente evitar as horríveis excursões e seus guias chatíssimos - do que na China. Na maioria dos lugares interessantes ou úteis aos turistas, sempre falam um pouco de inglês. Isso sem mencionar a simpatia e boa vontade por toda parte. Começamos por Luang Prabang, norte do país, antiga capital e importante centro histórico e religioso. Mais de 60% da população é budista e em Luang Prabang há templos antigos dos mais bonitos, onde vivem monges permanentemente vestidos em túnicas cor de laranja-açafrão e faixas amarelas ou marrons, cuja presença dá às ruas da cidade um colorido muito especial. Sinos e tambores tocados e soados duas vezes por dia, completam o clima zen da pequena Luang Prabang, 26.000 habitantes. É local relevante, considerado patrimônio histórico da humanidade pela Unesco, que ali mantém dois ou três arquitetos em tempo integral, supervisionando restaurações das lindas casas da cidade, onde, um dia, vários reis ali viveram. O museu instalado no antigo palácio real é bastante informativo e seus jardins, usados como parque por população e turistas. O mercado noturno, em uma parte da rua principal, é uma festa de compras boas e baratas. Tecidos e produtos com seda, bordados, pinturas em papel feito com folhas de bananeira, toalhas de mesa, bolsas, artesanato em madeira, tudo completa a mercadoria um pouco mais cara das lojas sofisticadas da cidade. Tudo de um bom gosto extremo, combinações de cores perfeitas, desenhos criativos mas sóbrios. Para quem gosta de compras, é bom aproveitar a temporada em Luang Prabang, pois na capital, Vientiane, maior cidade do Laos, o artesanato não é tão bonito e os preços distintamente mais altos - mesmo assim muito baratos para padrões brasileiros. A cozinha local é tida em alta conta no país e vale a pena experimentar búfalo grelhado e arroz crocante com coco e erva cidreira, por exemplo. E que podem ser degustados no melhor restaurante da cidade, Les 3 Nagas, na pousada de mesmo nome, onde nos hospedamos. O restaurante tem também um bom menu francês, mas o típico ganha até das divinas sobremesas dos antigos colonizadores; a banana empanada, nadando em molho caramelado de abacaxi, é uma boa desculpa para gastar umas calorias extras andando pelas ruas tranqüilas e perfumadas da cidade. Outro restaurante digno de nota é o Apsara, beira-rio, muito agradável e bastante típico. O cardápio do almoço é um tanto limitado, apesar do arroz frito com vegetais, fora de série. Prefira o jantar e os exóticos peixes grelhados ao alho, pescados ali pertinho, no rio Mekong. Opções de hospedagem são variadas, com muitas "guest-houses" (pousadas simples) decentes, albergues para mochileiros dos mais pulguentos até o La Résidence Phou Vao, pertencente à cadeia Orient Express, os donos do Copacabana Palace. Vistas maravilhosas, comida especialíssima e spa dos mais sofisticados. O Villa Santi, bem central, também é uma boa opção, sem ser dos mais caros. Seu restaurante L’Élephant é dos mais conceituados do lugar. O Samsara misturando as dominantes tendências nativas com o sempre chique toque francês, é outra possibilidade gastronômica. Museus, lugares para vigorosas ou relaxantes massagens com ervas, maravilhosas, a preços risíveis e templos variados completam "o que fazer?", em Luang Prabang, todos de fácil acesso caminhando. Se a preguiça for demasiada, embarque num "tuk-tuk", espécie de moto-taxi coberta, meio de transporte tão comum, que até na capital do país, bem maior que Luang Pragang, é largamente utilizado. Desnecessário dizer que custa uma miséria...
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