Uma idéia que promete mudar a vida de várias famílias e afastar os riscos da criminalidade, que ronda o dia-a-dia de 50 garotos da periferia de Boa Vista (Roraima), começa a se tornar realidade. Graças à parceria bem-sucedida entre a Universidade Federal do Estado (UFRR) e a Prefeitura da capital, a arte da reciclagem de papel está se tornando a principal arma para combater a violência e promover a inclusão social e produtiva de quem já não alimentava perspectivas de ter um futuro próspero. O projeto - Um dos 38 que recebem financiamento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) -, se chama Dupapel e desde setembro mobiliza uma equipe de cinco monitores e a professora universitária Cássia Caliari. Agrônoma e mestre em agronegócio da UFRR, ela é a idealizadora da iniciativa. Apesar de existir há seis anos, o Dupapel só agora, com o apoio financeiro do Governo Federal, pôde abrir novas vagas. "Escolhemos os jovens pela situação de risco e vulnerabilidade em que vivem, mas também levamos em consideração as habilidades reveladas por eles em trabalhar com reciclagem de papel", conta a professora. Além da oportunidade de aprender um ofício e se envolver na proposta do ecologicamente correto, os alunos ainda são levados para dentro do ambiente acadêmico. O laboratório funciona na própria universidade. Estar ali, convivendo com professores e estudantes universitários pode despertar neles o interesse em continuar estudando, se desenvolvendo intelectualmente, completa. Apoio fundamental - O local das aulas é um antigo galpão da UFRR, sem uso, que precisou ser totalmente reformado pela Prefeitura para se adequar às necessidades do projeto. Com o recurso transferido pelo MDS, por meio do Programa de Promoção da Inclusão Produtiva de Jovens, foram comprados equipamentos, uniformes e aventais. O dinheiro também foi utilizado no pagamento de instrutores. E estão previstos mais cursos, com ampliação da capacidade de produção e atendimento. O valor do repasse inicial foi de R$ 37 mil, de um total de R$ 71.915,00, dividido em parcelas. Além da UFRR, 42 instituições de ensino superior participaram da seleção, realizada no ano passado, com propostas de projeto nas áreas de orientação de jovens para trabalho em equipe, qualificação profissional, apoio à geração de renda e projetos especiais (voltados exclusivamente para beneficiários do programa Bolsa Família). Foram ao todo 53 projetos - cada instituição pôde inscrever no máximo dois projetos. O acordo com o MDS foi firmado em maio de 2006, estabelecendo um prazo de 12 meses para o início das atividades propostas. Desafio superado - Luizmar Almeida Pinheiro, 25 anos, é um dos monitores do projeto Dupapel e hoje reconhece que chegou a ter dificuldades para enfrentar as primeiras aulas com os jovens alunos. É ele quem ensina como trabalhar com reciclagem, fazer papel de fibra, embalagens, pastas e calendários, além de outros produtos destinados à venda e ao atendimento de encomendas, a exemplo das que já foram feitas pela própria universidade. Ex-aluno do projeto, acabou se destacando entre os que tinham mais condições de colaborar com os novos integrantes do grupo. A gente aprende não só a trabalhar com papel, mas a lidar melhor com as pessoas, diz ele, lembrando que, apesar de ter a mesma idade dos jovens, não pode brincar o tempo todo. Aula é aula, afirma. Segundo o coordenador do Projeto de Inclusão Produtiva de Jovens (MDS/Pnud), Maurício Sarda, as ações desenvolvidas em parceira com 28 instituições de ensino superior têm sido muito importantes para a construção de políticas públicas de combate à pobreza. Na sua opinião, esse formato amplia a noção de extensão das universidades, pois aproxima as instituições de ensino e as comunidades e abre as universidades para novos problemas, novos desafios, na busca de soluções sustentáveis para questões que afligem os cidadãos. "É importante também perceber que as comunidades passam a contar com uma parceria fundamental, em especial na inclusão de jovens em atividades produtivas, visando a geração de trabalho e renda", comenta ele. O Projeto Dupapel mostra que conhecimento científico e compromisso social podem cristalizar ações efetivas de geração de trabalho e renda e apontar para um futuro cheio de sentido para os jovens brasileiros.
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