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Arte e Cultura
28/01/2007 - 11h05
Ficção entre o descaso e o despeito
Paulo Ludmer
 

Há mais brasileiros escrevendo do que lendo ficção, debocham alguns escritores. Verdade ou mentira, somente no último concurso anual do Banco Real, dirigido a candidatos maiores de 60 anos, no segmento literário dos Talentos da Maturidade, afluíram mais de 16 mil textos na disputa.

No tradicional prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, apesar do custo da inscrição de uma obra (que pode superar os R$ 500,00, se ela recobrir mais de uma categoria), milhares de títulos rumam para as casas de dezenas de jurados, a cada ano.

O autor busca reconhecimento e a cadeia livreira o retorno sobre seus investimentos. A rigor, os grandes clientes das editoras são as aquisições de livros, após seleções públicas (estatais), para adoção nas redes oficiais de ensino. Naturalmente, os livros didáticos são mais comerciais. Não obstante, uns e outros livros de poesia nacional contemporânea cruzam essa peneira, conquistando a edição de dezenas de milhares de exemplares para estudantes.

Ser publicado por uma grande editora é tarefa de Hércules. Depois de passar pelo crivo editorial, obtendo o reconhecimento da qualidade literária, é um pesadelo ser aprovado pelos critérios econômicos. Um autor nacional raramente imprime mais de 1,5 mil exemplares numa primeira edição (a segunda permanece um sonho). Se a Editora vendesse tudo, em um ano, dificilmente auferiria lucro líquido superior ao de aplicações no mercado de capitais.

Nesse processo, um novo livro de contos curtos, poesia ou crônicas, é temerário, quase ofensivo e incorreto. Porque raramente vende. Não gira nas prateleiras das livrarias, cujos milímetros quadrados por mês exigem uma remuneração cada vez maior.

As livrarias em shoppings demandam receitas intensivas. E os supermercados lhes prometem uma inesperada concorrência, sem que o universo de leitores aumente.

Usar a mídia para atingir o mercado? Mesmo a eficiência sendo limitada, é uma quimera. Ora, enviar os originais de uma obra para os jornalistas de cultura apreciarem, resenharem ou simplesmente citarem em estantes de novidades, equivale a mandar um fósforo dentro de uma grande caixa. Esses profissionais não dão conta sequer de listar os títulos recebidos, como se fossem juizes de direito com milhares de processos sobre a mesa numa fila que só faz crescer. Porém, acaso ou não, privilegiam as grandes editoras nos raros centímetros dedicados a livros nos jornais.

Noutro extremo, as edições primitivas e pagas pelos autores costumam encharcar a oferta de má qualidade e de conteúdos sofríveis. Há erros formais. Convém considerar as más traduções, ausência de critérios, e outros ciscos que fustigam o mercado editorial. Textos sem estilo, ignorantes da tradição, da sintaxe e do léxico, são muito presentes. Excesso de gorduras, abuso de verbos auxiliares, erros constantes de foco narrativo, são alguns dos problemas onipresentes a ser barrados.

O fato surpreendente é que as pessoas seguem escrevendo, em número exponencial, ao largo das dificuldades de publicação e distribuição. Para uma cadeia de livrarias, aplicar sua logística e sua divulgação sobre um produto de 1,5 mil exemplares, é alto risco. Uma franquia no Rio Grande do Norte encomenda três exemplares; outra em Cuiabá, dois e a de Boa Vista, um só para a vitrine... conjugação que em seis meses torna irracional a operação de acolher o pedido, faturar, remeter e cobrar.

Interessar e motivar uma distribuidora é um round ainda mais árduo. Verter o livro - em busca de leitores - para o espanhol, inglês, alemão representa um custo que eleva ainda mais o risco do projeto. Procurar os blogs e a internet ameaça depredar e banalizar o livro concreto, objeto.

O conjunto das arestas desse círculo vicioso, daninho à cultura literária brasileira, e ao seu mercado, é sobejamente conhecido. Identifica-se há longa data o desafio, mas não como superá-lo.

Com a palavra, o Ministério da Cultura.


Nota do Editor: Paulo Ludmer é jornalista, escritor, poeta e professor de Criatividade na FAAP, com o site www.pauloludmer.com.br.

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