Outra noite, num desses sonhos malucos que a gente tem sem conseguir explicar o porque, sonhei com o velho Tom, desculpe a intimidade, o Thomas Edison. Tenho essa intimidade porque sempre sonho com ele e os seus trabalhos.

O velho Tom ganhou de presente alguns dias para descansar aqui na Terra.

- Descansar aqui? Quem lhe deu este premio está louco! Retruquei indignado.

- Nem tanto, meu amigo. Respondeu cansado. - Sabe que lá no céu está cheio de gente que vive dizendo que eu roubei a idéia da lâmpada. Todos falam que a lâmpada é minha, mas eles são os donos da idéia da luz. Pior é que sobra tudo para o Supremo Criador julgar.

- E aí? Qual o veredicto?

- Claro que ele sempre me dá ganho de causa, ele é a minha melhor testemunha. Além do mais, ele também esta muito cansado desses donos de idéias e, o caso dele é pior que o meu já que não pode nem pensar em se afastar de lá, nem por um minuto.

- Essa eu não entendi.

- Se aparece gente dizendo do meu trabalho, imagine o que aparece de gente dizendo-se dono da idéia dos trabalhos dele. Os trabalhos dele são bem melhores e ele fez muito mais do que eu. Até a luz dele é melhor que a da minha lâmpada!

- Vai me desculpar, velho Tom, mas essa é difícil de acreditar.

- Você nem pode imaginar. Responde resignado o velho Tom.

- Político tem essa mania, mas o Maluf ainda não morreu. Fica difícil imaginar mesmo.

- Aparece de tudo. E cada ano que passa fica pior. Aparece engenheiro, arquiteto, médico, biólogo, jornalistas, locutor, radialista, todos que foram incompetentes aqui na Terra aparecem por lá se dizendo os donos das idéias e, sobra para o Supremo Criador decidir. Profissionais mesmo, só os políticos, recém-chegado ta lá o Brizola atazanando a vida do Criador. Não sei quem deixa esse pessoal entrar.

- O Brizola está lá? Pensei que ele ia pro andar inferior.

- Ele é tão chato que dá vontade de mandar para o inferno mesmo. Por falar no diabo, olha quem aparece, o próprio. Disse Thomas apontando o Tenebroso.

- Não precisa se assustar com a minha cara. Foi logo falando o diabo. - Deixa eu entrar nesse sonho também, pelo jeito você é bom papo, apesar de não ser dos meus.

- Chega mais velho Tinhoso. Disse o Velho Tom. - O que você está fazendo aqui na terra, veio aprontar umas das suas.

- Que nada. Venho aqui pra descansar. Do jeito que a coisa está, os humanos não precisam da minha ajuda pra fazer coisa ruim. O Bush quando subir, melhor quando descer, vai me dar umas aulas, estou precisando me reciclar. Gostei do pessoal dele em Abhugraid. Ele precisa me ensinar a fazer aquela cara de idiota, ainda vou aprender a chegar sem assustar.

- Então o que você esta fazendo por aqui? Ousei perguntar

- Já falei, vim descansar um pouco.

- E deixou o inferno sozinho? Insisti.

- Não tem problema, sou eu quem resolve tudo por lá, quando eu saio aquilo vira um inferno, e isso é bom, melhor dizendo, essa é a idéia.

- Por falar em idéia. Interrompeu o velho Tom. Lá aparecem muitos donos de idéias?

- Tem um monte, tudo de carteirinha na mão. Só os do sindicato do Adolfinho ficam por lá.

- Que Adolfinho?

- O Hitler. Bom menino! Digo, aluno exemplar! Ele montou um sindicato fortíssimo, e insiste em dizer que a idéia do inferno foi dele. Gosto dele. Esses dias apareceu um cara novo por lá e quase tomou o sindicato do Adolfinho. O cara fez tanta fofoca, tanto mexerico, conseguiu infernizar a vida do Adolfinho de uma tal forma que, até eu fiquei na dúvida sobre a minha autoria no inferno e só de sacanagem mandei ele pro céu. Um tal de Brizola, você que é do Brasil conheceu ele?

- Ah! Então é você que está mandando os donos das idéias pra lá? Se adiantou nervoso o Velho Tom. - Você é mesmo tinhoso, mas nessa você pegou pesado.

- Esse é o meu papel. Você acha que é fácil agüentar esse pessoal se dizendo dono de idéia depois que você teve todo o trabalho de fazer. O inferno é meu de cabo a rabo, literalmente. Arrumei um jeito, e mando todos eles pro andar de cima.  Com esse pessoal a gente tem que ter uma paciência de Jó, e quem tem Jó para dar aulas são vocês, eu não.