Não, não é esse que você está pensando, estou lembrando do Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta. Não Lembra? Que pena! Lalau era para os íntimos, e para as certinhas que ele milimetricamente escolhia entre as beldades da época para saírem fotografadas em trajes mínimos (para a época, é claro) na revista "O Cruzeiro". Era um show poder ver a Íris Bruzzi vestindo maillot com aquela cortininha cobrindo os contornos pubianos. Acho que é por isso que essa juventude não tem mais imaginação. Naquela época a gente se esforçava para imaginar as beldades sem roupa alguma. Hoje a gente tem que imaginar alguma roupa para ver beldade nas peladonas que estão por aí. Fora isso tudo, o Lalau daquela época tinha um humor cirúrgico e pontuou com precisão muitas das mazelas nacionais. Principalmente na política. "Votar sem comparar é a mesma coisa que entregar a horta para o cabrito cuidar". Às vezes uma frase de humor vale por um tratado sociopolíticopsicologico. O velho Lalau pontuou muitos problemas e apontou muitas soluções usando o humor com genialidade. Nós que somos normais tentamos primeiro falar com argumentos razoáveis, depois insistimos com outras formas para dizer o que achamos certo ou errado e muitas vezes para não cair na irritação ou perder as estribeiras acabamos usando o humor. Para falar com humor a gente tem que ter muita seriedade, o que não é nada fácil. Muitas vezes é mais fácil chutar o balde, mas a gente que é normal, se controla. Quando não conseguimos de um jeito a gente tenta de outro, procura um grupo com os mesmos ideais, se não deu certo falar, vamos para o protesto e depois ainda temos a justiça. Acho que este é o caminho de um cidadão saudável cujo interesse principal é o fortalecimento da democracia. "No Brasil, a política se resume em não deixar as onças (os corruptos) com muita fome, nem deixar o cabrito (o povo) morrer, atacado pela onça faminta ou por falta do que comer". Quando a gente vê uma pessoa que só quer esbravejar, amaldiçoar, ameaçar, acusar, se afogando na própria bílis, que nunca tomou uma atitude efetiva a não ser falar, falar... Fosse na Grécia antiga, me lembraria Cassandra, mas neste Brasil permeado pela corrupção, me dá a impressão que o sujeito tentou dar a sua mordidinha e não conseguiu. Que alguém mostrou o doce para ele e não deixou ele pegar. Só assim podemos explicar o sujeito que demonstra tanta raiva, tanta ira, que é incapaz de construir e que exige ser aninhado como um injustiçado, um perseguido. Nossa democracia, apesar dos barbudos, ainda é glabrada (Ui! Naná me atacou) temos por aí muitos restolhos da ditadura militar quando lá, foram soldadinhos remunerados defendendo uma pátria verde-oliva, e que hoje usam a pele do cabrito que imolaram para esconder a onça esfomeada que trazem dentro de si. Que preferem manter um discurso escatológico apostando no fim da democracia que não lhes dá sustento por não saberem o que é ser um cidadão. Cidadão sem adjetivos, que é o que mais carecemos. Lembra de um filme com o Dustin Hoffman chamado "O pequeno grande homem"? É aquele tipo que constrói uma nação, uma verdadeira democracia e, não os grandes homens pequenos, falando bravo por aí.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
|