Os atletas mais velozes da Corrida Internacional de São Silvestre, a mais tradicional prova do atletismo de rua na América Latina, são mais jovens, têm menor grau de escolaridade e apresentam pior qualidade de vida entre os participantes na competição. Esse é o principal resultado da tese de doutorado apresentada na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) pelo médico Joel Tedesco, do Hospital das Clínicas. Tedesco analisou 947 participantes na edição de 2002, que foram divididos em cinco grupos. Considerando o tempo gasto para finalizar a prova, o primeiro grupo foi formado pelos corredores mais velozes e o último pelos mais lentos. A intenção foi verificar a relação entre o esforço intenso das competições de longa distância e a qualidade de vida dos atletas. Com auxílio de 22 alunos da FMUSP, o pesquisador aplicou a versão abreviada do questionário WHOQOL, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para mensuração da qualidade de vida, além de medir a relação entre peso e altura dos indivíduos. As 26 questões do questionário foram distribuídas em quatro domínios: físico, psíquico, social e ambiental. “Nos três primeiros domínios não houve diferenças significativas entre os cinco grupos. De maneira geral, o aspecto físico refletiu a disposição dos atletas, o psíquico a saúde mental e o social a integração em grupo”, disse Tedesco à Agência FAPESP. Houve diferenças mais acentuadas em relação à qualidade de vida no domínio ambiental, que investigou aspectos relacionados com o meio em que a pessoa vivia e incluiu perguntas sobre segurança, condições financeiras e acesso à informação, a tratamentos médicos e a meios de transporte. De acordo com a pesquisa, os corredores mais rápidos tinham em média 28 anos, treinavam seis vezes por semana e apresentavam a mais baixa escolaridade de todos os grupos, ficando na média entre o ensino fundamental e médio. Em contrapartida, além de a maioria ter nível superior completo, os corredores mais lentos não demonstraram nenhum tipo de insatisfação no domínio ambiental. “Uma das hipóteses levantadas é que os mais velozes entram na prova com finalidade diferente em relação aos mais lentos. Por virem de condição de vida inferior, eles participam exclusivamente para ganhar o prêmio em dinheiro, enquanto os mais lentos, que estão mais fora de forma, correm por lazer e diversão, sem interesse real em ganhar a prova”, disse Tedesco. A Corrida Internacional de São Silvestre, que na 82ª edição teve mais de 15 mil inscritos, ocorre sempre no dia 31 de dezembro nas ruas da cidade de São Paulo. O atleta que percorrer os 15 quilômetros em menos tempo ganha R$ 21 mil, enquanto o segundo colocado leva R$ 9 mil e o terceiro R$ 6 mil.
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