O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, garantiu ontem que o governo brasileiro não está sendo complacente com a Argentina, ao não endurecer o tom contra as restrições à importação de eletrodomésticos brasileiros. "Tem gente interessada em ver guerra comercial", disse Amorim, acrescentando que o Brasil não deseja criar nenhum impasse com os argentinos, que são o principal aliado econômico, político e comercial do Brasil. O ministro é de opinião que a decisão da Argentina de restringir os produtos brasileiros não enfraquece o Mercosul, apesar de o anúncio das medidas ter sido feito às vésperas da 26ª Reunião de Cúpula do bloco econômico, realizada dia 9 em Puerto Iguazú, na Argentina. "Isso não vai dificultar a nossa integração. Se não houvesse crescimento do comércio, não haveria esse problema. Nós negociamos com a Alca, com a principal potência do mundo, estamos negociando com a União Européia. Eu não acho que haja esse enfraquecimento. Pelo contrário. Eu acho que hoje em dia há uma fila para negociar com o Mercosul", disse Amorim. A exemplo do que afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encerramento da cúpula do Mercosul, Amorim disse que os problemas com os argentinos existem porque são reflexos do crescimento da economia brasileira. E o governo brasileiro, segundo o chanceler, vai defender os interesses do país nas negociações com os argentinos. "A gente tem que defender o interesse brasileiro de acordo com a nossa ótica, os argentinos com a ótica deles. E nós vamos discutir e encontrar soluções. Problema existe, mas é decorrente da intensidade das relações. Não estou dizendo que seja o ideal, o ideal é que não houvesse. Mas é natural que haja, e temos que tratar esses temas com maturidade, com inteligência", afirmou. Amorim disse que não interpretou as palavras do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, no encerramento da Cúpula do bloco econômico como um recado ao Brasil sobre as dificuldades do Mercosul em negociar com a União Européia. Kirchner disse que "os avanços nos capítulos de investimentos, serviços e compras governamentais estiveram condicionados por restrições que impuseram alguns estados membros do Mercosul, o que gerou importantes dificuldades no entendimento com a União Européia". Para Celso Amorim, as palavras do presidente argentino não foram um recado para o Brasil. "Eu não entendi dessa maneira. Nós estamos trabalhando em perfeito entrosamento. Dificuldades todos temos, cada um tem a sua. Nós temos atuado em conjunto. Não vejo que haja diferença. Eu não acho que ele está dando pancada, está fazendo a mesma coisa que se faz aqui no Brasil quando há interesse, como houve no passado com produtos agrícolas", ressaltou.
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