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COLUNISTA
Carlos Rizzo
21/12/2006 - 14h12
Sporophila ubatubana
 
 

Tenho feito inúmeras palestras em escolas, entidades e diversos grupos. Claro que o tema é “Aves”.

É inevitável durante as palestras o uso dos nomes científicos das aves. Sempre noto um certo desconforto entre os ouvintes o que me obriga a dedicar um tempo explicando o porque de se usar o nome científico.

Os nomes comuns em português, os ditos nomes populares, em muitos casos são extremamente regionais e nada populares. Toda vez que falo para algum caiçara o nome “ferro-velho” ele não sabe de que ave estou falando, se falo “arcade” qualquer caiçara sabe qual ave é. Saindo de Ubatuba o nome é ferro-velho e só em Ubatuba é arcade.

Se a gente pretende se comunicar e aprender sobre as aves o nome comum complica demais, no Google se você coloca o nome comum pouco ou nada aparece para lhe ajudar. Se você coloca o nome em inglês, já ajuda muito, mas se você coloca o nome científico, com certeza, aparecem todas as informações que você precisa.

Se você falar o nome comum para um finlandês ele não vai entender nada, se você falar um nome cientifico até um chinês vai saber de qual ave você está falando.

O melhor de tudo é que o nome científico é em latim que, para nós que falamos o português, não exige nenhum exercício de pronúncia.

Experimente pronunciar corretamente o nome Buff-throated purpletuft. O seu colega do lado vai pronunciar diferente. No entanto, fale Iodopleura pipra. A pronuncia do seu colega será exatamente a mesma.

Se com o nome científico a comunicação é melhor, qual a razão da vergonha em usá-lo?

Além do mais, se pegarmos os nomes em latim, logo descobrimos o significado.

Megarynchus pitangua, parece um palavrão. Leia com calma. Mega – grande; rynchus (rinosoro é remédio para que?), pois é, nariz, que para as aves é bico. Pitangua é do tupi-guarani, pitanga, aquela frutinha vermelha. Então o nome do nosso amigo é bico grande vermelho. Faça a experiência e coloque o nome no Google Imagens e veja qual ave é. Sempre o primeiro nome é a espécie e o segundo nome é o gênero.

A Sporophila do título é do mesmo jeito. Sporus é semente; phila (não é a dos bancos) vem de filo, amigo. Daí, amigo das sementes, apreciador de sementes que é o primeiro nome de várias aves.

Sporophila caerulescens (apreciador de semente e da cor do céu, azulado), Sporophila lineola (pequena linha) Sporophila falcirostris (frente falsa), Sporophila frontalis (fronte branca), Sporophila nigricollis (peito preto).

Da próxima vez que você ver um nome científico faça o exercício de tentar decifrá-lo, você descobrirá coisas incríveis além, é claro, de aprender muita coisa da origem da nossa Língua Portuguesa.


Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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