| | | Roosewelt Pinheiro / Abr |  | | | | Presos trabalham na penitenciária da Papuda, em Brasília. |
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José Aparecido Ferreira, ou Zezinho, como é conhecido, tem 34 anos e há cinco está preso em Brasília. O tempo ocioso abriu espaço para a criatividade. Ele participou de um dia de curso, ministrado por instrutores do Paraná, sobre como fazer cadeiras de rodas utilizando bicicletas velhas. Gostou da idéia, mas achou que a cadeira apresentada não era muito boa e começou a pensar como mudar. "Achei um pouco grosseira, quis aprimorar mais e dar um entendimento melhor. Porque você tem sempre que melhorar a vida do deficiente", disse. Pensou, trabalhou e conseguiu criar um modelo de cadeira de rodas mais leve, prático e adaptável a deficientes. Durante o dia, Zezinho trabalha na oficina de mecânica e funilaria da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap) do Distrito Federal. Chegou a passar no vestibular da Universidade Católica para Psicologia, só que não pôde cursar, porque está em regime fechado. Mas não desanima e agora planeja fazer nova prova, desta vez para Física. "Ociosidade não é bom. Leva a pensar besteira", afirmou. Assim como Zezinho, outros detentos têm direito de trabalhar. A lei que trata das execuções penais de condenados por crimes e delitos no país prevê ações voltadas para a recuperação e ressocialização dos presos, com ações educativas e de capacitação no trabalho. Apesar disso, o sistema carcerário caracteriza-se por forte ociosidade no seu cotidiano, segundo relatório do Centro de Justiça Global sobre os "Direitos Humanos no Brasil em 2003", divulgado em maio. O trabalho, apesar de ser um direito previsto em lei, também é precário, diz o documento. Só para se ter uma idéia, no Rio de Janeiro, apenas 1,9% dos presos estão trabalhando. De acordo com o relatório, a cadeia acaba sendo um espaço de punição, exclusão e materialização da criminalização da pobreza. No Distrito Federal, em 2003, 408 detentos estavam trabalhando em uma das oficinas da Funap. Carlos Augusto, de 35 anos, é outro deles, que há cinco anos está na padaria do presídio. "O trabalho é bom. É uma terapia para a mente", afirma. "Além de ser remunerado, consigo ajudar a família e vou sair com uma profissão", disse. Francisco Raimundo Rodrigues, de 46 anos, também está feliz com seu trabalho na padaria. "Antes era autônomo, agora tenho uma profissão. Isso é muito importante para mim e meus companheiros", ressalta. A padaria produz 10 mil pães por dia. Com o trabalho, o detento consegue remissão da pena, e parte do dinheiro que ganha vai para familiares. Na Papuda, também há oficinas de costura industrial, mecânica, funilaria, marcenaria e produção de bolas e redes. O diretor de comercialização e produção da Funap, George Ferreira, disse que a intenção é atender cada vez mais detentos. "Os internos demonstram ser muito importante a formação profissional. Queremos oferecer suporte para que, lá fora, eles não voltem para a criminalidade", acrescentou.
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