Faço parte de um grupo de discussão na Internet cujo tema é ornitologia e birdwatching, são mil e quinhentos integrantes. Volta e meia aparece o tema Nyctibius, este é o nome dos urutaus lá no grupo de discussão. Lá todos eles são especialistas, mas é interessante a quantidade de integrantes que nunca viram nenhuma das cinco espécies brasileiras de urutau também é conhecido como mãe-da-lua e pássaro-fantasma. Está chegando o verão e dentre as espécies que vocalizam nesta época está o tal do urutau. Ontem, ao cair da noite, pude ouvir pela primeira vez nesta temporada. Seu canto pesaroso é inconfundível. Na novela "Sinhá moça" da rede Globo, toda vez que aparecia a senzala eles colocavam ao fundo o canto do urutau associando a tristeza das cenas. Esse canto misterioso fez surgir inúmeras lendas envolvendo amores perdidos. Ao modo das corujas e dos curiangos é uma ave noturna. Se alimentam de insetos e pequenos roedores. Durante o dia, dormem nas pontas dos tocos ou dos moirões das cercas atingindo um mimetismo que o torna quase invisível. Interessante que eles têm um sistema nos olhos que engana quem se aproxima. Parece que ele está olhando, mas na verdade é mais um disfarce. O ano passado vimos um urutau que não teve tempo de voltar para casa e acabou amanhecendo num holofote em frente da Igreja Matriz. Moro numa espécie de vale que ecoa de tal forma que faz parecer que o bicho está cantando debaixo da nossa janela. Minhas silenciosas madrugadas serão interrompidas pelo canto do urutau. Nas madrugadas do verão o urutau é o tal.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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