No ano passado quando tomei conhecimento das intenções dos produtores do filme “Tourist” fiquei revoltado com os argumentos usados. Inicialmente o filme seria rodado na floresta da Tijuca no Rio de Janeiro, os traficantes não deixaram. Acabaram elegendo Ubatuba como a alternativa mais barata. Pela distância do Rio, pela mão-de-obra barata e disponível e ausência de “taxas”. Ubatuba tornou-se cenário de algumas obras ou cenas cinematográficas não somente por causa da sua natureza exuberante e intacta, mas principalmente por que os locais que eles gostavam de usar ou foram degradados ou foram tomados pela bandidagem. Fui contra e tentei fazer algumas pessoas verem o perigo que estavam expondo Ubatuba. Qualquer cidade cenário tem uma comissão municipal para analisar os roteiros dos filmes e a execução dos trabalhos no set, nos não temos nada. Quando o filme pseudo-ecológico Tainá II foi rodado no Taquaral eles jogaram esgoto in natura no rio Indaiá e os produtores adoravam passear pelas trilhas do parque com suas recém adquiridas camionetes off-road, tudo sem fiscalização e com algum dinheirinho para uma parcela da comunidade. Por conta da minha oposição ao filme “Tourist” arrumei algumas inimizades e dispensei a amizade de algumas pessoas que imaginava com alguma consciência além do verde dos dólares. Talvez agora me dêem razão ou se envergonhem das vezes que me tripudiaram por conta do meu zelo. O estrago está feito, não adianta se revoltar nem querer boicotar o filme. Agora toda polêmica, contra ou a favor do filme, será favorável somente à bilheteria. É lucro certo para os produtores. Devíamos ter agido lá atrás. O importante agora é criar mecanismos para se evitar futuros transtornos. Criar um grupo de trabalho com competência para analisar, aprovar e acompanhar a execução de filmes, novelas e “especiais” em nosso município. Se não cuidarmos do nosso patrimônio ele vai se acabar. Nós ficaremos sem futuro e com o lixo resultante e os diretores simplesmente irão procurar novos cenários. Os mesmos produtores estão novamente pela cidade para rodarem um novo filme do mesmo diretor. Quando reclamei dos prejuízos ambientais que eles provocaram com o “Tourist” a resposta foi imediata: “Tenho que garantir a comida das crianças lá de casa!”. Tive que me controlar para não ser mais agressivo. Restou-me devolver a pergunta: - De que espécie são os seus filhos para se alimentarem do futuro dos meus? O resto da conversa é melhor não escrever.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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