Andando pela Thomaz Galhardo fui testemunha de uma cena cada vez mais comum entre nós. Um ciclista agindo agressivamente "fechou" um carro em movimento. Como ele estava na direita do veículo, a passageira reclamou. O título deste artigo foi a primeira palavra que o ciclista proferiu, as outras todas, ditas aos brados, deixo para a sua imaginação. Você pode imaginar as piores, tenho certeza que estará muito aquém do baixo calão que todos, num raio de meio quarteirão, fomos obrigados a ouvir. Por lei, nós motoristas somos obrigados a manter uma carteira de habilitação, nos sujeitamos e somos penalizados de acordo com um Código Nacional. Pelo fato de possuir um veículo automotor, que deve estar devidamente documentado, mecanicamente mantido e conduzido por alguém devidamente identificado, somos penalizados civil e criminalmente por tudo o que ocorrer nas vias públicas, seja por nós provocados ou por nós sofrido. Os ciclistas estão livres de qualquer lei, afrontam toda e qualquer autoridade, opõem-se a um mínimo de civilidade, invadem ruas, calçadas, praças e locais fechados, andam na contramão e não respeitam farol fechado, não se exige nenhuma identificação do veículo que usa, nem manutenção e nenhuma conseqüência na sua condução irresponsável. Em qualquer acidente, dada a precariedade do veículo, o ciclista sempre sai machucado. Sendo vítima ou autor do acidente é vitima na santa casa, e, vítima incontestável no fórum quando busca os direitos conquistados pela simples ausência de deveres cumpridos. Temos um Código Nacional que contempla a normatização do uso da bicicleta, temos uma Lei Municipal que regulamenta a sua utilização no município, temos centenas de famílias de ciclistas e motoristas penalizados com parentes mortos e mutilados e, temos um prefeito que se recusa a aplicar a lei para não por em risco a sua reeleição. Considerando que o negócio dele é voto, somos obrigados a dar razão para o prefeito omisso. Nossa cidade tem mais ciclistas do que motoristas, qualquer lei que mexer com ciclista será antipática e antieleitoral, mortos não votam e os mutilados foram devidamente indenizados pelo Estado ou pela minoria representada pelos motoristas. Devemos também, dar razão aos vereadores que nada fizeram contra o atual prefeito que se recusa a cumprir uma lei votada e aprovada. A matemática é simples, temos mais velórios de ciclistas do que de motoristas, então, ficar falando mal dos motoristas durante os velórios rende muito mais votos do que ficar pensando em leis. Ora leis! Afinal lei é igual gripe, mesmo quando pega logo passa, e voto é coisa séria, são quatro anos de um bom salário. È dinheiro fácil e com dinheiro na mão não se brinca. As vacas que nos perdoem.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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