Era simplesmente mais um, dentre os milhares de anúncios de negócios imobiliários do Estadão. Por ser próximo da USP, próximo de Pinheiros e da Vila Madalena lá foi o meu filho Tiago verificar se o imóvel poderia interessar. Depois de dois meses de busca e umas duas dezenas de apartamentos visitados, uma simples passada em frente poderia resolver pelo interesse ou não. Apartamento bom, lugar bom, linhas de ônibus próximas. Construção sólida, bom acabamento. Tiago foi conversar com o zelador e com o síndico. Nas conversas, um argumento foi decisivo: - O levantamento feito aqui no bairro revelou 52 espécies diferentes de aves, o que indica a ótima qualidade de vida do bairro! De pronto meu filho ficou confuso. - 52 espécies diferentes? Contestou duvidando. - Tenho aqui o recorte do jornal, você pode conferir. O síndico parecia o seu pai falando: “para começar a observar, basta abrir a sua janela”. Estava decidido. Seria aquele apartamento. Pode ser que ele seja inferior a alguns outros vistos anteriormente, mas com certeza, aquela era a primeira vez que ele ouvia um argumento tão eficaz para ele que está mudando de Ubatuba para São Paulo. Jamais imaginei alguém usando este tipo de argumento diferenciando seu negócio. Também nunca fui corretor de imóveis, mas acho que alguma coisa diferente está acontecendo. - O binóculo você pode me dar de presente de natal. Completou meu filho.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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