Salvador - Limpeza (42,2%), qualidade da água (41,7%) e paisagem (33%) são os principais fatores que influenciam a escolha da praia pelos freqüentadores, segundo a pesquisa ’Economia da Praia - espaço de convivência e trabalho’, realizada pelo Sebrae na Bahia e divulgada no dia 22. Resultado de parceria com as prefeituras de Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari, o estudo foi desenvolvido pela Fundação Escola de Administração (FEA) nas praias de Piatã, Ipitanga e Guarajuba. O diretor do Sebrae na Bahia, Edival Passos, explicou que "a partir do diagnóstico pretendemos articular os atores sociais envolvidos na questão para melhorar a qualidade dos serviços e a satisfação dos freqüentadores", disse durante entrevista coletiva à imprensa para apresentação da pesquisa. O sociólogo Ignacy Sachs, que propôs ao Sebrae a realização do estudo, realizado na Bahia e no Rio de Janeiro, destacou ser a praia o maior espaço de convivialidade e lazer da população brasileira e onde também se trabalha bastante. Citando o economista Carlos Lessa, ele informou que entre 12% e 15% do trabalho no Brasil giram em torno das atividades de lazer. A coordenadora do trabalho, a professora Elizabeth Loiola, da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, afirmou que existem poucos estudos sobre a praia, daí sua relevância. "A pesquisa revelou, por exemplo, que a questão ambiental é muito importante para aqueles que freqüentam as praias", afirma Elizabeth Loiola. Segundo ela, os poderes públicos precisam adotar medidas de regulação desse ecossistema. Mas a praia não é só um espaço de lazer dos freqüentadores, é também um local de trabalho e produção de serviços. De acordo com Elizabeth Loiola, aqueles que trabalham nas praias, barraqueiros e vendedores ambulantes, reclamam de problemas, mas estão satisfeitos com as atividades que desenvolvem e dispostos a melhorar os negócios. Segurança A segurança foi o principal problema apontado pelos trabalhadores da praia, que reivindicam medidas governamentais para solucionar a questão e garantir a integridade dos que trabalham e dos que freqüentam. Elizabeth Loiola diz que há pontos de conflitos. "O freqüentador vê o ambulante como potencial assaltante e o barraqueiro, além disso, o vê como possível concorrente", informa. Na pesquisa, os vendedores ambulantes reivindicaram a formalização de suas atividades para evitar os mal-entendidos. "Eles solicitaram a ação dos poderes públicos, padronizando e identificando os profissionais com uniformes, além de local para armazenar suas mercadorias e oferta de cursos de capacitação", destaca Elizabeth Loiola. Na avaliação da coordenadora da pesquisa, a praia pode ser um grande foco de projetos de desenvolvimento sustentado. "A partir do momento que tenham condições de melhorar o atendimento, os barraqueiros vão aumentar suas receitas e formalizar a mão-de-obra de seus negócios, pagando também melhores salários", diz. Para ela, a maior capacitação dos profissionais da praia poderá diversificar os serviços e ampliar a escala de atendimento. "Mas precisa ser planejado, com soluções arquitetônicas para as barracas que não permitam a invasão da areia das praias", comenta Elizabeth Loiola. Perfil dos ambulantes A pesquisa revelou ainda que, entre os vendedores ambulantes, há predominância do sexo masculino, com idade entre 20 e 44 anos e escolaridade de nível fundamental incompleto. Em Guarajuba, no entanto, houve ocorrência em grau significativo de ambulantes com registro em associações de artesanato, cuja ocupação anterior era de empregado com carteira assinada ou autônomo, e que não possuem outra fonte de renda. Já a expressiva maioria dos negócios fixos, as barracas de praia, é de proprietário único e de origem familiar. São tocados com recursos próprios ou de familiares e amigos, quando necessitam fazer algum empréstimo. Em Piatã e Ipitanga, são negócios, na sua maioria, tocados por mulheres, enquanto em Guarajuba prevalece o sexo masculino. Preço é o principal problema enfrentado pelos negociantes para a aquisição das mercadorias, em todas as três praias, vindo a seguir: qualidade dos produtos, pequeno número de fornecedores, transporte, condições de pagamento e escassez. Em todas as três praias, prevaleceram proprietários que exercem atividade no negócio, cuja ocupação anterior era de empregado com carteira assinada, situados na faixa de 30 a 49 anos, com ensino médio completo, que não possuem outra fonte de renda. Registra-se a ocorrência com o ensino superior, completo ou incompleto, de 10% dos entrevistados nesta categoria, enquanto que é inferior a 3% o número de analfabetos. A maioria dos donos de negócios fixos declarou que empregava entre duas e quatro pessoas. Em Guarajuba, entretanto, a maior ocorrência registrada quanto a este quesito situa-se em 30% dos entrevistados que declararam empregar de seis a oito pessoas. Trata-se, portanto, de negócios de micro porte, muito deles de caráter familiar. Quanto às necessidades de treinamento dos empregados, o atendimento foi o item mais apontado pelos pesquisados, seguido por higienização do ambiente de trabalho, cozinha, segurança alimentar, higiene pessoal e comercialização. Necessidades de treinamentos em compras, saúde pessoal, controle de estoque e manutenção de móveis e equipamentos foram indicadas por menos que 10% dos entrevistados. A maioria dos entrevistados indicou já ter tentado obter um empréstimo junto ao sistema financeiro e apontou como as maiores dificuldades a elevada taxa de juros, o volume de documentação exigida, o fato de os financiadores darem preferência a clientes especiais, o valor do empréstimo ser insuficiente e as garantias exigidas. Quanto ao destino dado ao lixo produzido, em Piatã e Ipitanga, a maioria dos entrevistados declarou fazer uso das lixeiras existentes na praia. Já em Guarajuba, a maioria disse recolher o lixo em recipiente próprio. O Sebrae é bem conhecido entre a maioria dos entrevistados e os que já utilizaram os serviços da instituição fizeram uma avaliação positiva do atendimento recebido.
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