Fiquei surpreso ao ler um comentário do sr. Carlos Rizzo sobre uma crônica minha publicada nesta revista. Eu falava sobre a estátua do Anchieta e sobre a oportunidade de discutir sua substituição por outra, através de concurso público entre escultores da região. Aproveitei para lembrar um pouco a história da catequização/colonização, compartilhar meu ponto de vista, que é de homenagear também o espírito dos Tupinambás, dizimados, que jazem neste solo. Para completar, quis lembrar os negros escravos que realmente trabalharam para construir Ubatuba e nem sequer são mencionados na nossa história. Conclui que, se somos herdeiros das três raças, por que não homenagear também, com esculturas, o negro e o índio? Esse é o resumo, e você leitor pode encontrá-lo nesta revista sob o título O Anchieta sumiu! Chama o Cunhambebe, do dia 11 de novembro. Quis apenas levantar o debate. Mas o sr. Rizzo classificou o artigo como “irresponsável”. Chamou-o de samba de crioulo doido. E descambou para o ataque pessoal, tecendo comentários injuriosos sobre a minha pessoa, fazendo, ele sim, uma verdadeira salada de impropérios. Esse sr. não me conhece bem. Nosso breve contato foi através do Grupo Setorial de História e Geografia da Fundart, do qual é coordenador. Há cerca de três meses fui contra o desembolso de cerca 5 mil reais da Fundação (dinheiro público) para comprar um documentário de seu amigo de São Paulo. Mostrava o modo de vida de um caiçara antigo e seus comentários a respeito do progresso. Nada contra a obra. Só achei caro, e ponderei que com bem menos dinheiro a Fundart poderia fazer um documentário mais jornalístico e abrangente. Além disso, me incomodou o fato de estar sendo imposta goela abaixo a compra de um filme que não fora sequer encomendado, nem discutido e nem visto pelos conselheiros e pela diretoria. Como se não bastasse o sr. Rizzo quis que a Fundação pagasse o hotel e as despesas de viagem de seu amigo. Imagino ser este o motivo de tanta raiva de mim. Não faz meu gênero vir a público para discutir coisas mesquinhas ou pessoais. Poderia responder cada um de seus comentários sarcásticos. Mas vou poupá-lo, leitor. Sua retórica é confusa e arrogante. Vou poupá-lo também, ao menos por enquanto, de relacionar suas atitudes nada exemplares como conselheiro da Fundart. Meu interesse é aproveitar o momento do restauro da estátua do Anchieta e trazer à baila um assunto tabu: como a poesia e a atuação do padre espanhol ajudou a promover guerras religiosas e massacres (o dos índios brasileiros, dos negros africanos, e também das guerras decorrentes da Reforma, como a Noite de São Bartolomeu, na França, tido como o episódio mais sangrento do século 16). Quero discutir não só o Poema à Virgem, mas também sua obra mais importante - Feitos de Mem de Sá. É lá que está a síntese desse pensamento religioso que tanto podia converter quanto exterminar (Concílio de Trento). Algum historiador de verdade poderia ajudar. Mas vejo que o Coordenador de História e Geografia da Fundart (auto-intitulado editor) não pode contribuir. Não acompanha o samba. Nota do Autor: Beto Segantini – jornalista formado em 1978 pela Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, revisor, redator da revista Visão, dos jornais A Gazeta Mercantil, DCI, Folha de São Paulo, e das editoras Scipione e Moderna. Em Ubatuba entre 1990 e 1993 foi diretor e editor do jornal Praia Press, diretor cultural e presidente da Fundart no período de 94 e 95, promotor de eventos culturais através da empresa Terra Brasil (Ballet Stagium, Grupo de Dança da Bielorrússia, grupos de teatro infantil e vários outros eventos artísticos). É membro-fundador e assessor de imprensa da Associação Sócio-Ambientalista ASSU/Projeto Cuidágua e chefe do setor de Arquivo e Patrimônio da Fundart. Como músico e compositor, gravou CD com composições próprias e tem mostrado seu trabalho aqui em Ubatuba, São Paulo e vários países da Europa.
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