Essa mania de querer ofender uma pessoa associando a um animal, revela, antes de tudo, uma prepotência bushniana dos seres humanos. Tudo o que sabemos dos animais é do ponto de vista humano. Até concordo que temos a capacidade de classificar todos os animais pelo DNA, pelos hábitos, pelo habitat. Quando invadimos a psicologia dos animais, se é que ela existe, cometemos grandes injustiças. Claro que ninguém pode negar o amor e a fidelidade de muitos animais. Que, aliás, serviriam de exemplos para muitos seres, ditos humanos. Na questão da ofensa, é totalmente descabida a associação de sentimentos humanos aos animais. Como podemos chamar uma pessoa de cavalo por sua brutalidade? Como podemos chamar alguém de cachorro? Como podemos chamar alguém de anta? Você conhece alguém mais fiel e dedicado do que o seu cachorro? A anta sobrevive bem e totalmente integrada, ela dança na hora que o ser humano chega lá para matá-la. Se formos falar de hábitos e ambientes, antes de tudo é bom olhar os ambientes que os seres humanos são capazes de construir. Uma anta não sobreviveria em Cubatão. Um cavalo jamais agride sua cria. Qualquer cachorro é grato a quem lhe oferece comida e carinho. No ambiente humano não nos faltam exemplos humanos de imbecilidade, de infâmia e vileza, de violência, de incivilidade, de grosseria e de, infelizmente, desamor. Não nos faltam Bushs, Sadans, Ossamas, Dirceus, Genoinos. Até concordo que devemos nos espelhar nos animais em muitos, e não são poucos, exemplos de boas atitudes. Na fidelidade do cachorro. Na força dócil do burro. Na união e solidariedade dos gansos. Na alegria das andorinhas. Se queremos por um fim em muitas das mazelas humanas devemos começar a assumir que é nossa, essa porção ruim e, depende de cada um de nós fazer um mundo melhor, temos a nossa porção de sentimentos bons para isso e somos capazes. Nossos piores sentimentos são sentimentos totalmente humanos, não é justo, e é improdutivo, debitar aos animais os sentimentos que temos vergonha de dizer que são nossos. Vamos deixar os animais em paz. Garanto que a cobra não é culpada.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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