Concretos de alta resistência da EESC podem ter durabilidade "milenar". Eles podem durar até "mil anos". Estudos iniciados na década de 80 resultam em concretos altamente duráveis e resistentes que poderão ser usados em construções para proteger valores ou pessoas, e até mobiliários Na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, cientistas estão desenvolvendo concretos especiais e de alta resistência que podem ter durabilidade de até mil anos. "Isso não é apenas imaginação!", adverte o professor Jefferson Liborio, chefe do Laboratório de Materiais Avançados à Base de Cimento (LMABC), do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC. "Desde a década de 1980, quando começamos a estudar a integração da sílica (dióxido de silício) com o cimento Portland progredimos o suficiente para viabilizar um produto que dure realmente ’mil anos’", conta. O professor relata que há cerca de 20 anos já foi possível produzir na EESC um concreto com 50 megapascal (MPa) - valor que expressa resistência à compressão - com apenas 6 dias de idade. Segundo Liborio, naquela época (1985) somente se conseguia essa resistência na idade de 28 dias, após longo período de cura. "Atualmente já atingimos 55 MPa em apenas 4 horas", conta. E os progressos não param por aí. Otimista, Liborio relata que conseguiu produzir um concreto semelhante ao aço, em termos de resistência à compressão. "Temos concretos com 145 MPa em apenas 1 dia, e de 220 MPa em 3 dias. Podemos considerar que a fronteira de resistência para a construção de novos materiais foi atingida", comemora o professor, ressaltando que "já é possível pensar em alternativas ao aço." À prova de balas A partir do desenvolvimento de materiais em seu laboratório na EESC foram testados concretos capazes de absorver impactos como tiros de fuzil, por exemplo. Os testes foram feitos em paredes com 40 milímetros (mm) de espessura, com um fuzil calibre 0.762 à distância de 15 metros (15 tiros concentrados num alvo de 15 cm). "Esse tipo de arma é mais potente do que a explosão de uma granada ou de uma espingarda calibre 12", estima Liborio. Em outros tipos de testes, foram usadas furadeiras de impacto, com brocas de 3/8" de polegadas, de vídia. "O máximo que se atingiu foi apenas uma profundidade de 10 mm quando a broca derrete", explica o pesquisador. Os concretos de alta resistência e durabilidade testados no LMABC comprovam diversas viabilidades de aplicação do produto. Liborio lembra que, antes de mais nada, os produtos são viáveis economicamente. "Em relação à segurança, podemos vislumbrar inúmeras aplicações, como construções específicas para proteção de valores ou até mesmo de pessoas", diz o professor. Ele lembra ainda que o material pode ser importante matéria-prima nas construções sob o oceano. "Nossos materiais apresentam alta resistência aos cloretos e aos sulfatos e possuem porosidade mais refinada em relação aos convencionais", garante o pesquisador. É possível utilizá-lo em diversos setores associados à segurança nacional. Devido à facilidade que os concretos apresentam em relação à sua espessura, Liborio destaca que vem realizando estudos junto ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da EESC na viabilização de construções de mobiliários e revestimentos, como mesas, armários, estantes etc., em alternativa à madeira, granito e outros materiais. Os materiais poderiam ser aplicados também como mobiliários urbanos (banheiros públicos, ornamentação em praças, painéis, sinalizadores de trânsito etc.). Uma outra aplicação são para monumentos urbanos e históricos. O professor ressalta que a norma NBR 6118-2003 (NB1), para projetos e execução de estruturas de concreto armado, apresenta possibilidades de utilização de concretos entre 20 MPa e 50 MPa com um mínimo 300 quilos de cimento. "Com a mesma quantidade de cimento (300 quilos), nossos alunos conseguem produzir concretos com 60 MPa", afirma Liborio. Na prática, além dos testes realizados em laboratórios, o professor lembra que há uma experiência feita numa obra industrial da cidade de São Carlos, onde foi construído um piso de 25 mil metros quadrados, quando se obteve resistência de até 100 MPa em 28 dias.
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