Jija | |
No meio da noite passou por mim e tive quase a certeza que era um beija-flor. Não acreditei que pudesse ser. Como já sabia desse ninho nesse local, e o encontrei vazio. Fiquei esperando para ter a confirmação. Não demorou e a mamãe beija-flor voltou ao ninho com alimentos para os recém-nascidos, nasceram hoje, pois ontem à noite ela dormia tranqüila no seu ninho amarrado com canudo de tomar sucos no fio de eletricidade da cobertura no centro comercial do Perequê-Açú. Beija-flor voa à noite sim senhor. Pude ver várias vezes ele saindo e voltando com alimentos para os filhotes. O beija-flor da foto é o Eupetomena macroura – Swallow-tailed Hummingbird – beija-flor-tesoura. Esta espécie vive melhor em áreas urbanas e é pouco visto nas matas, talvez por isto que ele se acostumou com as luzes da cidade e mantém atividade mesmo à noite. Esta é a época de nidificação da maioria das aves. O termo nidificar engloba tudo: o namoro e acasalamento, a confecção do ninho, a postura dos ovos, nascimento dos filhotes e termina no abandono da casinha que cada um construiu pela sua espécie. Na nidificação deveria entrar também o cuidado na poda das árvores e o foguetório noturno e descabido nos políticos. Em 2004 lançamos um protesto contra essas manifestações políticas. O candidato não ouviu nosso apelo, mas os eleitores ouviram. No ano passado tivemos que contar com a coragem do Wilson para defender um casal de pomba-da-asa-branca. Este ano a Secretaria Municipal do Meio Ambiente tem observado a nidificação das aves nas autorizações que concede aos pedidos de poda ou de corte de árvores. É, sem dúvida, um grande avanço. Se daqui um mês é a época em que as aves se apresentam nas melhores cores das suas plumagens, agora é o tempo de se observar o cuidado que as aves tem com os seus filhotes. Dentro do limite que a inteligência humana imagina que os animais têm, eles não medem esforços para garantir a sobrevivência dos rebentos. E no meio da noite, sai o beija-flor em busca de alimentos.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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