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Brasil
17/09/2006 - 19h37
Mulher negra é última na escala da renda
Juliane Sacerdote - ABr
 

Dados do Radar Social 2006, estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostram que a taxa de pobreza entre os brasileiros reduziu-se de 33,3%, em 2001, para 30,1% em 2004. A taxa de pobreza utilizada no estudo considera famílias que recebam menos de um salário mínimo. O valor corresponde à população em geral. Entretanto, a proporção de negros em situação de pobreza é duas vezes maior que a de brancos.

Em 2004, enquanto 19,6% dos brancos eram considerados pobres, cerca de 41,7% dos negros sofriam do mesmo problema. De acordo com o pesquisador José Celso Cardoso, do Ipea, essa desigualdade, que se mantém em todos os estados é uma questão histórica no Brasil.

“Com o fim da escravidão, os governos não ofereceram aos negros trabalho ou condições de estudo. Foi um problema passado de geração a geração. Sempre as mesmas pessoas, com os mesmos atributos, vão ficando fora da fila e sendo excluídas sempre”, destaca o pesquisador.

Cardoso lembra que, se analisada a situação da mulher, principalmente da mulher negra, a situação é bem mais grave. Segundo ele, nos últimos 20 anos, as mulheres começaram a sair de casa e ir em busca de emprego. No entanto, a chegada das mulheres ao mercado de trabalho se deu em época desfavorável, quando o mercado estava desempregando.

“Elas foram concorrer com os homens, pelos mesmos cargos, mas em condições inferiores de formação e numa época em que a economia mundial passava por incertezas. O processo foi se intensificando, e hoje, mesmo a mulher tendo condições melhores de currículo, elas continuam a ganhar 60% a menos que os homens, exercendo as mesmas funções”, disse Cardoso.

O pesquisador André Campos destaca outro ponto: a hierarquia da renda coloca “os homens brancos como aqueles com os melhores salários e empregos, e as mulheres negras, como as mais mal pagas da escala. Ou seja, uma discriminação de gênero e raça”.

No ano de 2004, 7,1% dos homens estavam desempregados, enquanto 12,1% das mulheres não tinham ocupação formal. A taxa de desemprego entre brancos e negros mostra que 10,5% dos negros estavam sem emprego, em 2004, e 8,2% dos brancos desempregados. A taxa de mulheres negras desempregadas ou sua faixa salarial não constam no estudo.

“A situação da mulher parou de piorar em 2004, com o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, mas estamos longe de reverter essa situação de discriminação”, ressalta Cardoso. Segundo ele, essa diferença entre homens e mulheres persiste, porque as empresas ainda vêem a mulher com desconfiança, pelos gastos com a licença maternidade, e por seu “jeito frágil”, podendo “não dar conta” da função.

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