Ocypode quadrata é o nome científico do guaruçá, também conhecido como maria-farinha, caranguejo-fantasma e siripadoca. É um crustáceo que habita praias arenosas, construindo tocas no supralitoral, desde a marca mais alta da linha d’água até a área de encosta das dunas e da restinga. O guaruçá apresenta uma grande importância ecológica como consumidor de detritos orgânicos e desempenha um papel muito importante dentro da cadeia trófica. Pesquisas analisando a biologia do guaruçá constataram que o hábito de construírem tocas é determinante na sua sobrevivência, pois estas tocas servem de refúgio, principalmente nas fases críticas do ciclo de vida, como o período de muda e incubação dos ovos. O acasalamento ocorre em dois períodos anuais, na primavera e no verão. Apesar da vasta distribuição geográfica do guaruçá, do litoral da Flórida até o litoral do Rio Grande do Sul, o que vemos em algumas praias do litoral norte de São Paulo, particularmente na praia do Félix, em Ubatuba, é uma redução dramática no número de indivíduos desta espécie nos últimos 10 anos, que tenho observado como pesquisador. Um dos principais fatores do extermínio do guaruçá é a ação dos cães, que soltos pela praia durante o dia e a noite, cavoucam as tocas e matam os indivíduos jovens e adultos, respectivamente de hábitos diurno e noturno. Há 5 anos era comum encontrarmos ao longo da praia do Félix, tocas de guaruçá com diâmetro de até 50mm, mas hoje encontramos somente poucos indivíduos jovens e tocas que não ultrapassam 15mm de diâmetro. A vida estimada deste crustáceo é de 3 anos, mas na praia do Félix a maioria não consegue nem mesmo atingir a idade adulta. Existe uma Lei municipal que proíbe a circulação de cães nas praias de Ubatuba. Caso não haja uma ação responsável dos órgãos competentes (Prefeitura Municipal, IBAMA, Polícia Ambiental), fazendo-se cumprir esta Lei, a espécie Ocypode quadrata será extinta em algumas das nossas praias. Me desculpem as associações de proteção aos cães e gatos, mas os cães são sim predadores cruéis, e soltos num ambiente natural, são uma grande ameaça para muitos animais silvestres, que coevoluíram em hábitats naturais sem a presença destes predadores. Animais como o guaruçá devem ser preservados, para o equilíbrio dos ecossistemas naturais. Nota do Editor: Fabio Rossano Dario é Engenheiro Florestal, Mestre em Ciências e PhD em Ecofisiologia Vegetal.
|