Em meados de dezembro muitos setores entram em compasso de espera. Espera-se o natal, depois o réveillon com as costumeiras promessas de um ano melhor. Em Ubatuba não se faz nada além da urgente necessidade de cada um de fazer a temporada de verão, outros setores ficam esperando. Passado o verão, se espera o carnaval, passado carnaval, se espera a Semana Santa, depois Corpus Christi. Depois as férias de inverno, depois vamos esperar as Olimpíadas, depois teremos que esperar as eleições, que terminadas teremos que esperar a posse do eleito em pleno réveillon, em plena temporada de verão. Que a gente tem que esperar passar para ver se o prefeito eleito começou bem... Lembro do tempo que a gente tinha certeza que Ubatuba seria uma cidade melhor, que os nossos políticos seriam melhores. Lembro que a gente tinha esperança de melhorar o ano do carro, comprar uma casa, viajar para o exterior. Tudo era uma esperança gostosa de se ter. Era só trabalhar. Sabíamos que mais dia menos dia, a gente chegaria lá e a única coisa que a gente esperava era a maré abaixar. Os romanos nos ensinaram que a Justiça tarda, mas não falha; os militares da ditadura nos ensinaram que a justiça farda, mas não talha. Hoje vemos que a Justiça tarda, mas você pode recorrer para ela tardar mais ainda, e esperar talvez, até três mandatos. No meu tempo quem esperava era mulher grávida, hoje apesar da gravidade do momento, ficamos esperando sem esperança. A frase "brasileiro, profissão esperança" hoje tem muito mais a ver com a série de esperas que nos são impostas e outras que criamos em nossas vidas, do que a esperança indicada na segunda das três virtudes teologais. Tirando as filas dos bancos, do INSS, de hospital público que estas não contam na esperança por que a gente tem certeza que quando precisa vai ter que esperar mesmo, afinal elas são patrimônio nacional, a gente espera o tempo todo. O sonho de um dia ganhar na loteria não é mais sonho, por que tem muita gente que continua jogando por uns trocadinhos para pagar as suas contas no dia seguinte da extração. O esperar suplantou, literalmente, a esperança. Está nas mínimas coisas do nosso dia, a gente espera com tanta naturalidade que nem percebe. O esperar misturou-se com a omissão, com o não fazer, com o deixar para lá, com o empurrar com a barriga. Se a gente sabe que o vizinho é ladrão ou traficante, a gente fica esperando que um dia a polícia prenda o cara. Se tiver um baita buraco na rua, quebrando tudo quanto é carro desavisado, a gente fica esperando a prefeitura tapar. A gente joga lixo na rua porque espera que a prefeitura varra e faça a coleta. Se o prefeito não é bom, a gente fica esperando a próxima eleição e na eleição de um outro que a gente vai esperar que seja bom. Se o vereador depois de eleito mudou de cor a gente espera. A gente vê os bicicleteiros fazendo os maiores absurdos de educação, de segurança, de violência, sabemos que existe uma lei municipal que não é aplicada e esperamos a boa vontade do prefeito que só quer esperar a reeleição. Não fazemos nada contra os corruptos porque esperamos que eles sejam eliminados pelo voto. Essa espera constante tornou-se maléfica. Deixamos de ser cidadãos quando estamos em compasso de espera. Abrimos mãos da nossa segurança porque esperamos que a polícia faça alguma coisa. Abrimos mãos de uma cidade limpa porque o lixo pode esperar a prefeitura. Abrimos mãos de uma cidade digna porque achamos que podemos ficar esperando um prefeito melhor. Será que não temos outra alternativa senão esperar? Será que agora não é a hora de se fazer alguma coisa que nos dê a possibilidade de um futuro melhor e mais produtivo? Será que é certo esperar que a escada seja lavada (de cima para baixo) e não fazer a nossa parte na construção de uma nação? (de baixo para cima). "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer..." Lembra dessa? Se você acha que o Vandré é passado pode mudar a letra: quem sabe fazer na hora e espera acontecer, é responsável por tudo o que vemos acontecendo de errando.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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