Conforme divulgado amplamente pelos meios de comunicação, as vendas de imóveis nos EUA vêm caindo consideravelmente nos últimos meses. O estoque de casas à venda cresceu e os preços recuaram. Os números do mercado imobiliário em julho surpreenderam negativamente os principais analistas econômicos do país. O volume anual (média móvel de 12 meses) de vendas de residências novas caiu de 1,12 milhões de unidades em junho para 1,07 milhões em julho: um recuo de 4,46%. Comparado ao volume anual comercializado em julho de 2005, a queda foi de 21,6%. O volume anual de vendas de residências (novas e usadas) caiu de 6,6 milhões em junho para 6,33 milhões em julho, o menor volume desde janeiro de 2004. O preço médio de venda das unidades residenciais novas em julho foi de US$ 230 mil, 1,6% inferior ao registrado em junho e 10,5% inferior ao recorde registrado em abril de 2005. A oferta de unidades residenciais recém-construídas e prontas para venda, em julho, chegou a 137 mil, quantidade 3% superior a de junho e 33% acima daquela registrada em julho de 2005. A situação do mercado imobiliário americano é resultado do desaquecimento da economia. Os contínuos aumentos da taxa básica de juros praticados pelo FED começam a fazer efeito. Juros mais altos encarecem o financiamento da casa própria e desestimulam as operações financeiras relacionadas às hipotecas de imóvel. O excesso de oferta de novos imóveis residenciais também colabora para o problema. Durante muito tempo o investimento imobiliário foi uma das mais rentáveis aplicações no mercado americano. Isso atraiu grandes somas e gerou um excedente de oferta. Como o mercado imobiliário é um dos principais pilares de sustentação do crescimento da economia americana, seu enfraquecimento pode causar graves conseqüências na bolsa de valores e no volume de consumo da população. Um desaquecimento da economia dos EUA repercute no mundo todo. Países exportadores para o mercado americano sentirão imediatamente o golpe. A China, que acabou se tornando a "fábrica" dos EUA, precisará encontrar outros meios para sustentar seu ritmo de crescimento. Apesar de sofrer impacto negativo, o Brasil está menos vulnerável ao desaquecimento da economia mundial, do que estava há anos atrás. A atual valorização do real frente às moedas internacionais permite que desvalorizações cambiais sejam absorvidas sem grandes problemas. A redução da exposição cambial da dívida pública também reduz os impactos de um choque de câmbio. A auto-suficiência energética também veio em boa hora para a economia brasileira. Qualquer choque no preço do petróleo pode ser atenuado internamente. Um ajuste na economia americana é necessário para corrigir os graves desequilíbrios nas contas externas e fiscais daquele país. O problema está no ritmo em que esses ajustes ocorrerão. Se o mercado internacional começar a desconfiar da força do dólar, pode haver uma corrida contra a moeda com fortes conseqüências para a estabilidade das finanças internacionais. O cenário mais provável, no entanto, é de ocorrência de um ajuste administrado. O desenvolvimento dos sistemas de controle entre os diversos bancos centrais e a interdependência dos mercados financeiros mundiais permitem acreditar que o pouso da águia, ainda que não tão suave, não será tão turbulento a ponto de causar estragos à economia mundial. Porém, os investidores precisam acompanhar com mais atenção às notícias internacionais, a fim de evitar possíveis desgostos nos próximos meses. Nota do Editor: Alcides Leite é professor do Centro de Conhecimento Equifax e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.
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