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Brasil
11/08/2006 - 13h12
Do golpe ao Planalto
Jorge Serrão
 
Livro de ex-assessor de imprensa de Lula garante que o presidente participou junto com Dirceu das negociações do Mensalão

O presidente Lula da Silva não poderá mais alegar que nada sabia sobre o escândalo do mensalão. Ele participou das negociações do esquema. A revelação está no livro “Do Golpe ao Planalto”, escrito por seu ex-assessor de imprensa e amigo pessoal, Ricardo Kotscho, editado pela Companhia das Letras. Uma candidata ao Senado pelo estado de São Paulo pelo nanico PTC, Ana Prudente, que aparece com 2% nas pesquisas, promete usar o livro para lançar uma campanha de mobilização nacional pelo impeachment de Lula, em função do objetivo fato novo.

Na obra, Kotscho coloca a marca do repórter acima da carteirinha do partido, ao narrar a negociação do PT com o PL, que ele presenciou em 2002, no apartamento do ex-deputado Paulo Rocha (PA), onde se plantou a semente do mensalão. A negociação juntou, de um lado, Lula e José Dirceu, e de outro, José Alencar e Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Só três anos depois, Kotscho descobriu o móvel principal daquela feroz discussão: R$ 10 milhões. E o pior, é que ele assegura que Lula estava lá, debatendo a “fixação do preço”.

Ricardo Kotscho, que não é filiado ao Partido dos Trabalhadores, acrescentou um posfácio em que faz duras críticas à corrupção no governo. O jornalista conclui que a corrupção é um “ingrediente trágico em nosso destino”. No livro, cujo objetivo é narrar sua trajetória profissional, Kotscho garante que nos seus dois anos de governo não teve nenhum sinal ou evidência de corrupção. Ele narra que, ao visitar um jornal, em janeiro de 2004, como assessor de imprensa do presidente, recebeu uma saraivada de críticas ao listar as realizações do governo Lula.

Naquele instante, Kotscho desafiou: “Vocês podem falar o que quiserem, mas pelo menos são obrigados a reconhecer que neste governo não tem corrupção”. O assessor só deu azar porque, um mês depois, explodiu o caso Waldomiro Diniz, que foi o estopim de todas as crises que atingiram o governo, com o mensalão, a queda de José Dirceu, o estouro da máfia dos sanguessugas, e, agora, a ainda não explorada Operação Mão de Obra, desbaratada pela Polícia Federal, que denuncia a manipulação de licitações, com um esquema que movimenta mais de meio bilhão de reais no com a limpeza terceirizada dor órgãos da União.

Tanta sujeira, junto com a revelação contida no livro, levam a candidata a senadora pelo pequeno Partido Trabalhista Cristão paulista a relançar uma campanha pelo impedimento de Lula, mesmo próximo do período eleitoral. A candidata Ana Prudente considera que a declaração contida no livro de Ricardo Kotscho é o ingrediente final para comprovar que Lula não só sabia desde o começo, mas teve participação ativa na negociação com o PL no processo de cooptação de uma base aliada para o seu governo. Por isso, pretende liderar uma campanha nacional pelo impeachment de Lula.

Imperdível

Independentemente da polêmica que o livro ("Do golpe ao Planalto - Uma vida de repórter" (Companhia das Letras), de Ricardo Kotscho) venha a lançar, irritando os petistas na véspera da eleição, a obra de Kotscho sempre tem muito a ensinar, sobretudo aos jornalistas.

Ricardo Kotscho é um dos maiores repórteres brasileiros, com passagens marcantes pelos jornais Estado de São Paulo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e Istoé.

Teve sua dura experiência de jornalista “chapa branca” no governo de seu amigo Luiz Inácio Lula da Silva - com quem se dá desde os tempos das greves operárias do ABC.

No livro, Kotscho revelou que, no passado, teve pressentimentos sobre Lula no poder: “O principal era que o presidente, a vida toda habituado a aplausos e elogios, não estivesse psicologicamente preparado para enfrentar uma onda daquele tamanho”.

Fora, Ladrão!

O presidente Lula já pode colocar em sua agenda mais uma manifestação que vai tirar o sono dos integrantes de seu governo.

Está marcado para o dia 27 de agosto, em São Paulo, mais um grande protesto público contra a corrupção e a classe política.

Será a “Marcha Brasil contra a Corrupção”, cujo slogan é simples: “Fora, Ladrão!”.

O recado, embora possa parecer, não é contra o presidente Lula, mas sim contra o governo do crime organizado.

O evento está sendo organizado por internautas, e promete parar a Avenida Paulista, no último domingo do mês de agosto, que tem tudo para ser o mês do desgosto para muito político envolvido em falcatruas com o dinheiro público.

Aguardada resposta

O Tribunal Superior Eleitoral deve responder, a uma consulta feita pelo deputado federal Miro Teixeira (PDT).

O parlamentar defende a tese de que a Constituição obriga os Tribunais Regionais Eleitorais a impugnar os mandatos dos eleitos contra quem a o Ministério Público ou a Polícia tenham recolhido provas de corrupção.

As impugnações devem ocorrer depois da diplomação dos eleitos, em dezembro.

Os acusados têm amplo direito de defesa, e podem recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral.

O TSE deverá decidir cada caso antes da posse dos eleitos, em 1º de fevereiro.

70 por cento se vendem?

Até 70% dos 513 deputados e 81 senadores são corruptíveis.

Quem garante é um especialista em corromper políticos.

O empresário Darci Vedoin, dono da Planam, soltou esta verdade em depoimento dado no dia 13 de julho à Justiça Federal, em Cuiabá, no Mato Grosso.

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