Fui comprar jornal domingo de manhã, o dono da banca depois das conversas de praxe emendou: "O senhor já tem candidato a vereador?". Meia hora de conversa sobre os candidatos a prefeito, sobre vereadores etc. Tudo para pedir o meu voto "quando ler o seu jornal, lembre do Nicolau" recitou o estribilho depois de me entregar o santinho com a foto dele. Voltando para casa furou o pneu do meu carro, e azar do destino o estepe estava vazio. O borracheiro mais próximo estava a umas dez quadras. Por sorte logo encostou um conhecido que se prontificou a me levar até um borracheiro, não o mais próximo, mas um outro e mais distante. No caminho de ida, a conversa de política foi inevitável, mais opiniões sobre os candidatos. Chegando lá, enquanto calibrava o estepe, o borracheiro me confidenciou das pretensões a vereador do solícito motorista, que era assim mesmo, atencioso, amigo, inteligente e que merecia o meu voto. Na volta o papo político foi mais aberto e com direito a santinho e mais um versinho: "Nas aflições e necessidades, vote Figueiredo, o amigo de verdade". Troquei o pneu e resolvi ir até o borracheiro mais próximo para consertar o pneu furado antes de voltar para casa. Descobri porque o Figueiredo, o motorista candidato, não quis me levar até lá. O borracheiro era candidato também, mais conversa, mais santinho e de quebra mais um lema de campanha "eu encho a tua bola, encho o seu pneu, mas não encho o seu saco, para vereador vote no Eustáco". E ainda me explicou: "o meu nome é Eustáquio, mudei para poder rimar melhor com saco". Tinha saído para comprar jornal e a minha manhã já tinha passado, como estava perto do meio dia resolvi parar na quitanda para comprar umas verduras. O japonês dono da quitanda junto com o troco me entregou um santinho da sua candidatura "só reclamar num resolve, né?" Nunca dei troco erado, né? A minha honestidade o sr tem como comporovar, né? E dá-lhe versinho: "Vote no japonês, chegou a sua vez, né?" Estou saindo da quitanda e encontro o veterinário dos bichos lá de casa. Que depois das perguntas de planilha médica, se apresentou também como candidato. "temos que acabar com essa política animal, conte comigo, afinal sou o melhor amigo do seu melhor amigo". Nessa brincadeira foi mais meia hora de conversas e acabei me atrasando para o almoço. Normalmente isso é motivo de muita irritação, mas encontro minha mulher toda sorridente. - Tudo bem eu também me atrasei, vieram umas amigas aqui em casa e a conversa estava tão boa que até perdi a hora. - Ainda bem que foi bom, porque a minha manhã foi um horror. Sobre o que vocês conversaram? - Elas vieram aqui para me convidar para sair candidata a vereadora, e eu aceitei. Tudo bem que você não vota em mim, tenho certeza que os votos dos seus pais são meus. Época de eleição é complicada. Chove candidato para tudo quanto é lado. Só espero que você que está lendo, não seja candidato também. Por falar nisso, já imaginou um vereador escritor? Se você ainda não tem candidato, vote em mim: "se eu não fizer história como vereador, prometo que pelo menos escrevo toda ela". Van Grog Enfim um escritor consciente.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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