21/04/2025  12h55
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Cidades
26/06/2004 - 08h11
Os jovens têm muito a falar
Sílvio Peccioli
 
Decifrar linguagem dos jovens é fundamental para resgatá-los da violência.

O Brasil, segundo o último Censo, tem cerca de 56 milhões de pessoas com menos de 17 anos, o equivalente a toda a população da Itália. Considerando a perversa e crescente concentração de renda, parte expressiva do contingente de crianças e jovens pertence a famílias pobres, numerosas delas vivendo abaixo da linha da miséria. Nesta condição, conforme dados oficiais do próprio governo, subsistem aproximadamente 23 milhões de brasileiros.

Esta rápida imersão nas estatísticas da dívida social é suficiente para demonstrar a necessidade de cuidar das crianças e adolescentes, principalmente dos que se encontram sob a dificuldade da exclusão ou próximos dela. Escolaridade, mais acesso à saúde e a programas culturais, esportivos, semi-profissionalizantes e educacionais são prioridades indiscutíveis. Entretanto, não é o bastante. A rotina dos jovens não se esgota com a freqüência diária à escola e aos projetos, públicos ou privados, que os atendem. Cada um deles, mesmo os que já perderam vínculos familiares e endereços fixos, tem um espaço próprio de convivência e interação social.

É preciso ir aonde o jovem está! Conhecer seu mundo, decifrar seus enigmas e anseios, entender seus medos, perceber sua perplexidade diante do futuro incerto; é premente respeitar sua sensibilidade e ter conhecimento da volatilidade de suas sensações, desejos, metas, caminhos e opções. Os jovens estão dizendo tudo isto, todo o tempo, para os pais, os vizinhos, a sociedade, os amigos, a escola, o governo, os educadores e o Terceiro Setor. Sua mensagem é cifrada. Por isto, nem sempre a entendemos.

A voz da juventude expressa-se nas roupas, nos ritmos, nos gestos, nas cores e formas do grafite, nos códigos de cada "tribo". Será que sabemos ler este idioma perpetrado de símbolos? Ou será que transformamos a barreira lingüística em desculpa para a omissão? Quantos gritos de socorro ecoam na ginga do rap e do hip hop? Quantas emoções inerentes aos direitos humanos mais essenciais e presentes no Estatuto da Criança e do Adolescente são supridas pela adrenalina dos esportes radicais, dos rachas de automóveis, da inconseqüência do álcool e das drogas ilegais?

Responder perguntas como essas faz parte da responsabilidade do Estado e da sociedade. Para isto, contudo, é preciso traduzir integralmente as distintas linguagens por meio das quais a juventude tenta comunicar o conteúdo de seu mundo, de seu tempo. Abraçá-la não significa apenas acolhê-la nos espaços do universo escolar e dos programas de atendimento já existentes. É preciso ir aonde o jovem está! Seu envolvimento com a violência é crescente e ocorre indistintamente de classes sociais. Resgatá-lo de um quotidiano de riscos e desventuras perigosas depende da convivência familiar, da escola, dos programas de atendimento aos carentes e da mobilização de toda a sociedade. É preciso compreender a essência, os signos e os reais problemas do jovem em seu dia-a-dia. Apenas no seu universo peculiar torna-se viável traduzir seus idiomas, decifrar suas estruturas de neurolingüística e construir uma ponte de confiança e afeto sobre o abismo dos significados.

É necessário que, nos programas de atendimento, os jovens percebam que alguém - a família, o Estado, a sociedade ou todos - fazem parte de seu mundo. Talvez seja este aspecto, por mais sutil que pareça, a maior virtude do projeto Oficina Escola de Artes e Ofícios, implantado em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, no qual menores, inclusive ex-infratores, encontram novo sentido para a vida, aprendendo um ofício, sentindo-se úteis, recebendo o reconhecimento da comunidade e tendo a oportunidade de trabalhar. Sedimentou-se um canal de interação.

Ao se quebrarem as barreiras, ficará mais nítido o quanto os jovens têm a dizer. E precisamos ouvi-los, pois a cada dia cresce o problema que acaba de ser apresentado ao governo brasileiro pelo relatório anual da Junta Internacional de Controle de Narcóticos das Nações Unidas. O documento explicita que parte dos 30 mil homicídios ocorridos anualmente no Brasil relacionam-se ao tráfico ou ao uso de drogas e que os meninos de rua que servem ao crime organizado são assassinados porque sabem demais ou porque defendem as posições sem causa de seus "patrões". Punir os jovens infratores, como muitos clamam, talvez seja inexorável, pois é preciso conter o irremediável. Entretanto, ignorar a voz da juventude significa contribuir para o agravamento paulatino das estatísticas apontadas pela ONU. É uma irresponsabilidade presente, é resignar-se à derrota moral da Nação.


Nota do Editor: Sílvio Peccioli é prefeito de Santana de Parnaíba e membro do Fórum Metropolitano de Segurança Pública da Grande São Paulo.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CIDADES"Índice das publicações sobre "CIDADES"
29/09/2022 - 05h41 Pró-Sangue de São Paulo pede doação de sangue
01/09/2022 - 06h23 12º Festival de Filmes Outdoor Rocky Spirit
15/08/2022 - 06h21 Festa da Achiropita volta a ser realizada em SP
12/06/2022 - 06h36 Acontece em Atibaia festa dedicada as Drag Queens
22/05/2022 - 06h34 Chamber Soloists na Cripta da Catedral da Sé
18/04/2022 - 06h12 1ª Edição da Bienal do Lixo, em São Paulo (SP)
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.