Para bem impressionar a nova professora, caprichei no primeiro trabalho que ela pediu. Valeu a pena, ganhei nota 10 e o restante da classe um enorme sermão, nenhum deles teve nota acima de cinco. Dona Esther, a professora, me elogiou tanto que até fiquei constrangido e os colegas passaram a me discriminar. Fui tão discriminado que no segundo trabalho queria nota menor que cinco, e consegui. Dona Esther me recriminou severamente comparando o meu crescimento ao do rabo de um cavalo "só cresce para baixo" explicou. Sempre me lembro disso quando analiso os últimos anos de Ubatuba, estamos crescendo para baixo. A população do município aumentou e o nosso padrão de vida se deteriorou. Não nos desenvolvemos, inchamos. A lei da vantagem, a lei do Gerson, aqui em Ubatuba ganhou status e número. A nossa lei 711 só serviu para interesses espúrios e o desenho delineado para a cidade foi deturpado pelos resultados que vemos por aí. O pior exemplo é a praia Grande que a lei 711 previa casas térreas no primeiro quarteirão; sobrados no segundo; e três pavimentos a partir do terceiro quarteirão. Não precisamos de pior exemplo para mostrar o descaso. Alguém levou vantagem e tristemente vemos que não foi o Município. Até a ordem dos números eles mudaram na lei 711 e ela se revelou um enorme 171. Somente um Plano Diretor daria rumo ao nosso desenvolvimento, mas a última versão dorme em alguma gaveta agasalhada pela colcha de retalhos que é a lei 711. Qual o tipo de investidor que se arrisca a colocar suas fichas numa cidade sem rumo? Quem se arrisca a construir uma casa de alto padrão correndo o risco de ver brotar no terreno vizinho um prédio de cinco ou seis pavimentos? Hoje Ubatuba é um barco furado, furado e com rumo. Ia me esquecendo que o fundo do poço não deixa de ser um rumo, também. Ano a ano vemos baixar o nível do turista que nos visita. Se um dia Ubatuba foi a pérola do Litoral Norte, objeto do desejo dos melhores turistas, hoje tornou-se desejo dos abjetos turostas. Temporada virou tem porrada e feriado prolongado, virou desespero de credor. Estamos jogados à própria sorte. Nesta administração que se esvai, tivemos quatro anos perdidos. No turismo, nem o jungle kid amigo do prefeito resolveu o problema. Nosso secretário do Meio Ambiente mostrou que é do meio, chegou no meio do mandato, é meio eficiente, meio ausente e só é meio autoridade nas solenidades do Dia da Árvore. Nossa vida cultural é uma cesta básica, só tem o arroz feijão com o famoso até 3%. Se na Bahia tem o axé, em Ubatuba ficamos no até. Secretaria de Obras fez o que deu para fazer, com 3% do orçamento municipal parece mais uma secretaria de sobras. Alguém ouviu falar em Secretaria de Planejamento? Já estava tudo planejado ou foi tudo sem planejar? Inaugurar com churrasco cada obra que a lei manda fazer é a mesma coisa que pagar uma cervejada a cada conta de luz que a gente paga. No mínimo ridículo se não fosse caro também. O atual prefeito é assim, vive fazendo propaganda das obras que a lei manda fazer como se tudo fosse obra e vontade da sua administração. Cercado por um bando de xiitas para bater palmas, garantir a boquinha e defende-lo (xiita para mim é a maacaca do taarzan). Sabe qual a diferença entre o medo e o pavor? Medo é quando vemos que a Justiça ainda não encerrou o primeiro mandato dele. Pavor é quando ele aposta que a Justiça não vai incomodar nem no seu próximo mandato. Imagine se depois de eleito pela terceira vez o mandato dele é cassado. Se o Vice não puder assumir e sobra para o Presidente da Câmara segurar o rojão? Dá uma olhada nesse mundaréu de candidatos a vereadores que vem por aí. Por esse caminho qualquer um deles pode ser o nosso próximo Prefeito. É um tiro no escuro. Ao lembrar daquela história da escola, de certa forma me solidarizo com o atual prefeito. Ele não pode fazer melhor do que já fez e nem precisa insistir, acho que disfarçou muito bem a capacidade que tem e jamais será discriminado por 99% dos seus colegas de classe.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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