Quando a seleção brasileira entra em campo, um país inteiro se veste de verde e amarelo e todos acham que a vitória será uma conquista natural. Somos os melhores do mundo no futebol. Ninguém conquistou mais títulos do que o Brasil e nenhum país participou, como o Brasil, de todas as copas até hoje. Quanto custa o orgulho de ser brasileiro? Como avaliar o ataque formado por Ronaldo, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Adriano, só para ficar nos jogadores da atual seleção? Difícil calcular, mas é certo que o impacto não vai ficar restrito aos estádios. Os passes precisos, os dribles inimagináveis e os gols espetaculares dos nossos craques fazem parte da chamada indústria criativa cada vez mais influenciada por valores intangíveis que traduzem o jeito de ser de um povo. Algumas características deste tipo são imediatamente vinculadas ao Brasil, como a ginga dentro dos gramados, a hospitalidade e o espírito festivo e essa chamada ’alma brasileira’ é vista cada vez mais como um componente fundamental para vender o País e consolidar a atividade turística. Toda essa diversidade do País foi exibida durante a 2ª edição do Salão de Turismo, realizado no ExpoCenter Norte, em São Paulo, no início deste mês. Música, gastronomia, danças típicas foram algumas das atividades programadas para chamar a atenção do público de 100 mil pessoas e mostrar que o País é dono de um patrimônio que vai bem além da habilidade com a bola. Muito além do Carnaval Pesquisas da Organização Mundial do Comércio (OMC) indicam que, apenas nos primeiros três anos deste século, o faturamento da indústria criativa no mercado internacional duplicou. Esta valorização é confirmada por estudos de especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) que mostram que este segmento responde por 7% das riquezas produzidas no mundo e o crescimento deste tipo de indústria tem sido tão acelerado que logo deve alcançar o percentual de 10%. Dentro deste cenário é que o setor turístico trabalha atento ao fortalecimento da marca Brasil, valorizando a cultura nacional para vender o País além dos apelos já consagrados como o futebol e o Carnaval. Iniciativas de diferentes ministérios, como os da Cultura e Turismo, se entrelaçam em busca de um objetivo comum: identificar, resgatar e valorizar todas as manifestações que traduzem o espírito do Brasil para promover o desenvolvimento econômico e a inclusão social. Este trabalho conjunto que está sendo realizado em parceria com governos estaduais, municipais, Sebrae, Senac e entidades de classe que representam o setor turístico está pautado dentro desta perspectiva, dando resultados positivos em vários pontos do País. O pólo gastronômico e cultural do Rio antigo é um bom exemplo da revitalização de uma área a partir da valorização do seu patrimônio. A Lapa, bairro do centro do Rio, era pouco freqüentado, não só pelos turistas, como pelos próprios habitantes da cidade, porque era visto como um local perigoso. Os empresários da rua do Lavradio, onde se concentram os antiquários, se mobilizaram e em parceria com o Sebrae e Senac definiram diferentes ações para atrair visitantes. Reviver o encanto das antigas marchinhas de Carnaval foi o primeiro passo deste processo. Durante o concurso realizado no começo deste ano, circularam pela área mais de 15 mil pessoas, um número expressivo que comprovou o acerto da decisão. Este endereço vive agora uma fase positiva com apresentação de grupos de música, dança, teatro, exposições de peças de antiquário e artesanato, entre outras. Estes shows a céu aberto não só oferecem diversão aos visitantes como facilita a circulação das pessoas pelos antiquários, bares, restaurantes contribuindo para a revitalização econômica. O projeto inclui mais do que oferecer diversão. A união do grupo com as entidades foi fundamental para resolver problemas estruturais como a recuperação hidráulica, rede de esgoto, ampliação das calçadas e iluminação. Etapas fundamentais para preservar o conjunto de prédios históricos, o maior tesouro da área. Para oferecer atrações permanentes durante todos os finais de semana, estão sendo desenvolvidos roteiros culturais em outros pontos do centro da cidade ressaltando características particulares da Cinelândia, Lapa e Praça Tiradentes formando uma espécie de corredor cultural. Suíça do sertão Também consciente da sua riqueza, a Paraíba lançou uma nova rota no Salão de Turismo para chamar atenção para o interior do Estado. O roteiro batizado de Caminhos do Frio quer atrair visitantes entre julho e setembro quando a temperatura à noite fica por volta de 15 graus. Foram escolhidos seis municípios da região Brejo Paraibano, localizada a pouco mais de cem quilômetros da capital João Pessoa, donas de um rico patrimônio histórico e cultural. Artes plásticas, literatura, cinema, dança, teatro e música estão entre as atrações oferecidas. Para que este projeto não ficasse limitado ao terreno das boas intenções, os municípios identificaram as maiores carências e já começaram a investir em capacitação de acordo com as necessidades de cada lugar. Cursos e consultorias de conscientização turística para a população, funcionários e empresários; atendimento a clientes; empreendedorismo cultural; gestão de bar e restaurante; artesanato de fibras de banana; técnicas de esportes radicais; formação de guias especializadas até treinamentos específicos voltados para o teatro como sonorização, iluminação, direção e interpretação. "Nós somos a Suíça do sertão e tenho certeza que os turistas interessados em conhecer uma paisagem diferente vão visitar a nossa região, até porque ninguém acredita que possa fazer tanto frio na Paraíba", brinca Murilo Guimarães Lima. Dono de uma pousada onde funcionava a estação de trem, ele decidiu abandonar a atividade anterior para investir no turismo. "A Paraíba andava um pouco abandonada, mas de uns dois anos para cá este setor tem se estruturado melhor. Temos uma cultura muito rica para mostrar e uma boa estrutura para oferecer", completa. Campina Grande, que faz parte deste circuito, já organiza a maior festa de São João do Mundo e recebe cada vez mais turistas interessados em conhecer a tradição local. Consciente de que o turista anda cada vez mais exigente e em busca de roteiros diferenciados, a Paraíba já organizou roteiros religiosos: os Caminhos do Padre Ibiapina e a Via Cruzeiro de Roma, sendo que este último foi formatado seguindo algumas características de Santiago de Compostela na Espanha. Outros dois já estão sendo desenvolvidos para mostrar o ciclo do açúcar: Caminhos do Engenho e, em parceria com Alagoas e Pernambuco, o Caminhos do Açúcar.
|