| Arquivo |  | | | The Freewheelin’ Bob Dylan. |
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Bob Dylan nasceu no dia 24 de maio de 1941. Hoje, portanto, ele está comemorando 65 anos de vida. Parabéns, Bob Dylan, por esta vida e pela obra que ela vem gerando. Com 21 anos, Robert Allen Zimmerman era um estranho rapaz de cabelos bagunçados e profundos olhos azuis, neto de imigrantes russos judeus. Natural de Duluth, na região dos lagos no norte dos EUA, fronteira com o Canadá, ele passara por Minneapolis antes de se estabelecer em Nova Iorque no início dos anos de 1960. Gostava mesmo era de música, e do violão que empunhava buscando sempre aprender novas músicas que escutasse por onde estivesse. E essa não era uma tarefa das mais fáceis no interior dos EUA, ainda mais antes da explosão do mercado do rock’n’roll e da música pop. O rock’n’roll surgira em meados dos anos de 1950, inaugurando assim o cenário em que se desenrolaria uma profunda transformação na produção musical de todo o planeta. A música passaria então a determinar padrões estéticos e comportamentais, influindo diretamente na moda, na arte e no consumo de todas as gerações posteriores ao surgimento do Rock. Talvez marco ainda mais importante seja o surgimento dos Beatles na cena inglesa em outubro de 1962 com o single "Love me do", a partir de então o mundo nunca mais seria o mesmo. Se os Beatles são o maior fenômeno popular e o mais importante marco na música popular pós-Rock’n’roll, podemos dizer, com alguma propriedade, que a Bob Dylan ficou resguardado o posto de vanguarda intelectual dessa transformação que se operou no cenário musical nos anos de 1960. Dylan chegara à grande cidade apenas com o violão, procurando espaço para si na cena noturna. Tocava música Folk e errava pelos bares e casas noturnas da cidade. Em pouco tempo, entretanto, Dylan assinaria um contrato com a Columbia Records, uma grande gravadora, na qual gravaria dois discos no exíguo espaço de três meses. O primeiro com algumas músicas de outros compositores e apenas duas canções suas; o segundo com diversas composições próprias que estourariam rapidamente, convertendo Dylan numa celebridade no cenário musical norte-americano. Símbolo da contra-cultura Quando entrou no estúdio pela segunda vez - logo três meses após a gravação de seu primeiro álbum - Dylan contava com um respeitável repertório de músicas próprias. Alguns de seus futuros "hits" seriam gravados naquela incursão à sala de gravação da Columbia Records. Este segundo disco, "The Freewheelin", trouxe à tona algumas das canções mais célebres da carreira de Bob Dylan: "Blowin’ in the wind", "Girl from the north Country", "Masters of War", "A Hard rain a-gonna fall", "Don’t think twice, it’s all right", entre algumas outras boas canções. A partir daí, Dylan representou para a cultura popular ocidental a ponte musical entre a geração Beat - marcada por Jack Keruac, com seu livro "On the Road", e pela presença de Allen Guinsberg - e a geração "hippie" da segunda metade dos anos de 1960. Geração que teve seu ápice nos movimentos pelos direitos civis nos EUA, nas passeatas de maio de 1968 na França e nas manifestações contra a Guerra do Vietnã. Dylan representa tudo isso e, ao mesmo tempo, talvez não represente nada disso. A presença de uma temática humana, apontando injustiças e violências - seja na guerra; seja na natureza humana -, aproximou-o dessa nova esquerda dos anos sessentas. Mas Dylan relutou em aceitar a incumbência de liderar qualquer movimento. Buscava sua música apenas, produzia letras sem parar e em cada show executava músicas novas e músicas antigas tocadas de maneira diferente. Seguiu em turnê incessante na primeira metade da década de 1960. O ápice dessa fase de sua carreira aconteceu entre 1964 e 1966. Bob Dylan formara uma banda composta por músicos de Blues e de Rock, tocando com guitarras - junto ao inspirado Mike Bloomfield -, baixo, teclados e bateria. E começou a se apresentar para o público Folk dessa maneira. A resposta do público da música Folk foi imediata, Joan Baez fora por ele mesmo afastada; Peter Seeger, bastião do Folk, inconformado sentiu-se pessoalmente ofendido; o público começou a vaiar Dylan em todas as suas apresentações. Nesse mesmo período, entretanto, Dylan apresentaria - já na versão elétrica - uma canção que o levaria diretamente ao panteão da música pop, resgatando-o do ríspido tratamento que recebia nos meios do folk: "Like a Rolling Stone" traz uma sonoridade diferente do que havia na cena do Folk, do blues e do rock - até então capitaneado pelas canções dos Beatles. Com uma letra complexa e uma elaborada combinação sonora, a música dura muito mais do que os 2 minutos e meio comuns nos compactos de então. "Like a Rolling Stone" foi direto para as primeiras posições nas paradas americanas e inglesas, ficando atrás apenas de "Help!" estrondoso sucesso dos Beatles. Dylan virou celebridade na contra-cultura. Em seu disco de 1966, "Blonde on blonde", estariam mais algumas canções que marcariam a época. "Just like a woman" se converteria num grande sucesso e marca da luta feminista. Ao mesmo tempo em que produzia e tocava incessantemente, Dylan sofria cada vez mais com o assédio da imprensa e dos fãs. A todo momento, era indicado como líder de um movimento amorfo, um movimento que tomaria forma em 1968 mas que, sobretudo, relutava em liderar. Ainda em 1966, foi noticiado que Dylan sofreu um acidente andando de moto. A partir daí, ele isola-se em sua casa nas imediações de Woodstock, onde pretendia ficar com sua família. Abandonou a sua banda a The Band e recusou os convites para participar de show e festivais - incluindo o próprio Woodstock. Voltaria à cena apenas no ano de 1970, com marcante participação no festival da Ilha de Wight. Com seu sumiço, Dylan não parou de produzir canções novas, que se espalhariam por suas inúmeras gravações subseqüentes. Assim como não parou de trilhar caminhos novo para sua carreira. Nos anos sessenta, gravara seu álbum "Self Portrait", repleto de canções que marcaram sua vida (suas e de outros compositores), que foi, por muitos, considerado um álbum ruim - ainda que leituras atualizadas vejam-no de maneira diferente. No mesmo período, Dylan gravou seu disco "Planet Waves" que se converteria em outro grande marco em sua carreira; e gravou também o álbum "Desire", sucesso que teria como principal canção a famosa "Hurricanes", sobre a prisão do boxeador Rubin "hurricane" Carter, e os episódios de racismo envolvidos nessa história. Ainda nos anos setentas, Dylan - de origem judaica - se converteu ao catolicismo, gravando discos que o aproximam dessa temática. Depois dos 60 e dos 70 Nos anos oitentas, Dylan produziu mais alguns álbuns como "Oh Mercy" (1989), e sucessos como "Jokerman". Permaneceu, então, por mais um período, sem gravar músicas novas; mas teve importante presença com seu MTV Unplugged em 1996. Em 1997, voltou a gravar músicas novas em "Time Out Of Mind". Em 2001, gravou "Love and Theft", seu último disco de estúdio. Por fim, em 2004, Dylan lançou "Chronicles", um livro autobiográfico, escrito com a linguagem fragmentada de Willian Faulkner e James Joyce; com deferência especial a suas origens musicais, Woody Guthrie e Robert Johnson, Elvis e os Beatles: os primeiros dois, suas estrelas guias (com especial menção a Guthrie, tema de sua primeira composição gravada: "Song for Woody"); os demais, referências contemporâneas que influenciaram suas experiências musicais. Dylan relutou em assumir lideranças e posições públicas. Só o fez por intermédio de sua arte, de suas canções, influenciando toda a geração que promoveu as grandes mudanças comportamentais do pós-II Guerra no ocidente. Ao mesmo tempo em que negava seu papel de líder, produzia dezenas de canções que denunciavam a crueza humana, a guerra e as desigualdades. Canções como "Masters of War", "A Hard Rain a-gonna fall", "Just Like a Woman" e "Hurricane" traziam temas fundamentais da humanidade - a Guerra, o homem, as desigualdades e os preconceitos. Ao mesmo tempo, produzia canções de amor mais complexas e profundas do que as baladas dos Beatles. Dylan assumiu apenas sua busca musical incessante, que trouxe consigo desde a juventude. As questões profundas que cantava vieram com essa busca e com a literatura com que tomou contato. Salvou-se de virar um marco, salvou-se de tornar-se datado. E hoje é possível descobrir que Bob Dylan, seja em 1963, 1976 ou em qualquer outro período, é - não só um talentoso compositor de inconfundível voz rouca - mas alguém que não tem movimento algum a liderar, mas um pouco mais de meia dúzia de lições a ensinar para aqueles que o escutam. Blowin’ in the wind Leia a letra (tradução em seguida) desta que foi, e continua sendo para alguns, um hino de esperança em momentos de desesperança, uma profunda evocação à paz num brado de serena rebeldia, e uma profunda e simples lição entoada na melodiosa canção do vento. Blowin’ in the Wind How many roads must a man walk down Before you call him a man? Yes, ’n’ how many seas must a white dove sail Before she sleeps in the sand? Yes, ’n’ how many times must the cannon balls fly Before they’re forever banned? The answer, my friend, is blowin’ in the wind The answer is blowin’ in the wind How many times must a man look up Before he can see the sky? Yes, ’n’ how many ears must one man have Before he can hear people cry? Yes, ’n’ how many deaths will it take till he knows That too many people have died? The answer, my friend, is blowin’ in the wind The answer is blowin’ in the wind How many years can a mountain exist Before it’s washed to the sea? Yes, ’n’ how many years can some people exist Before they’re allowed to be free? Yes, ’n’ how many times can a man turn his head Pretending he just doesn’t see? The answer, my friend, is blowin’ in the wind The answer is blowin’ in the wind Só o vento sabe a resposta Por quantas estradas um homem precisa caminhar Para que possa ser chamado de homem? Sim, e quantos mares uma pomba branca precisa sobrevoar Até que durma na areia? Sim, e quantas vezes os canhões precisam funcionar Até que sejam banidos para sempre? A resposta, meu amigo, só o vento sabe, Só o vento sabe a resposta Quantas vezes um homem precisa olhar para cima Até que possa ver o céu? Sim, e quantos ouvidos um homem precisa ter Para ouvir o lamento das pessoas? Sim, e quantas mortes serão necessárias para que ele saiba Que muitas pessoas morreram? A resposta, meu amigo, só o vento sabe, Só o vento sabe a resposta Quantos anos pode uma montanha existir Antes de ser arrasada pelo mar? Sim, e quantos anos pode uma pessoa existir Até que se permita sua liberdade? Sim, e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça Fingindo que não viu? A resposta, meu amigo, só o vento sabe, Só o vento sabe a resposta FOLK - Música popular característica do interior dos EUA, tocada geralmente por voz e violão, com letras contando grandes histórias de amor, coragem e medo. A cidade de Nashville é considerada a capital da música Folk.
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