Os biólogos afirmam, e eu não duvido que durante anos a baleia passou por Ubatuba. De outubro a novembro ela buscava Abrolhos e depois ela sempre voltava para o gelo.

Talvez por novos caminhos, ou por Ubatuba 2000. O certo ninguém sabe, ninguém viu. Azar ou sorte a baleia encontrou a morte. Pode ter sido no sul ou no norte, veio na correnteza de leste. Há quem conteste. Uns afirmam com certeza, ela foi ajudada. Amarrada foi puxada para servir de atração para a turistada.

Quando aquele monte apareceu no horizonte, os comerciantes gritaram triunfantes: é a salvação, o fim da danação!

No primeiro dia foi aquela alegria, rádio, jornal, televisão e o melhor, aquele monte de turista querendo a melhor vista da bicha.

No segundo dia, veio a Globo, aí então aumentou a freguesia. A turistada chegava e fotografava, registro de cores e não de odores.

O pessoal disfarçava, chegava perto e fotografava. Depois corria para bem longe. Um ou outro até vomitava. Todo mundo via o quanto a bicha fedia.

Os comerciantes começaram a se preocupar. Amanhã é segunda e turista não abunda. Onde enfiar a baleia encalhada na areia? Amanheceu o terceiro dia e todo mundo via, estava feita a porcaria. Ninguém falava, ninguém negava, a bicha não mexia, e o pior, fedia.

A tarde começou aquela falação, mas ninguém assinava a decisão. O que fazer com a bicha? Alguns ameaçaram processos, outros entraram com recursos, veio até recursos de São Paulo, e todo mundo descobria que a bicha não mexia. Foi assim até o dia chegar ao fim.

No quarto dia todo mundo conferia, fedor não tem fronteira, porcaria não para na porteira. A coisa estava brava, ninguém mais fotografava e todo mundo reclamava. A melhor solução era uma eleição, mesmo assim teve muita confusão. Vira a bicha para cá, vira a bicha para lá, enterra ou manda embora. Uns queriam fazer picadinho com tomates, outros chegaram a apedrejar a pobre bicha. Resolveram enterrar a baleia, não na areia, o ideal é na marginal, perto da pista.

Mesmo debaixo da terra, talvez ela assista a chegada do progresso que a sua presença tanto emperra.

Os biólogos apostam que ela vai ser atração de turista. Acho bom a gente recuperar o esqueleto e colocar num bom lugar, para agente não esquecer que baleia encalha e nunca mais dar chance para o azar.

Com certeza, nesta virada do milênio vamos poder sapatear em cima da bicha e ela não vai poder reclamar.

A próxima que encalhar a gente já sabe, enterra logo que a bicha fede.

Este texto foi publicado em dezembro de 2000 e para quem não se lembra, é sobre a baleia que encalhou na praia Grande e deu maior confusão.

Para quem escreve, reencontrar um texto antigo é sempre muito interessante e é inevitável a comparação, a análise, e a vontade de escrever de maneira diferente do que está lá. Registrado.

Apesar de não ser recomendável o uso da rima num texto, naquela época rimava tudo com muita facilidade, era natural. Hoje em dia está mais difícil escrever textos rimados, por isso parei de escrever assim.

Vale pela comparação das diferenças de cada um.